quarta-feira, maio 13, 2009

Desconseguir

Li ontem que um responsável de um jornal português teria afirmado que a publicação de um suplemento ia ser "descontinuada". À parte a tristeza pelo fim do caderno, nada de mais grave se passa, em matéria de correcção do português: a palavra existe. Não é bonita, lembra o anglo-saxónico "discontinued", mas está aceite pelos dicionários.

Porém, se assim é, não percebo porque não se adoptam outras fórmulas semelhantes, de que a mais elaborada será, com certeza, a que se ouve muito em Angola: "Conseguiste chegar a tempo ao banco? Desconsegui".

4 comentários:

Anónimo disse...

Tem razao

Sinceramente, eu até pensava que essa "logica" deslogica ou desgramatical ;-) so se aplicava aos adjectivos.

Porem, apos dois ou três segundos de pensamento, percebi que nao era o caso. Aplica-se portanto tambem aos verbos. (Desiludir, desrespeitar, etc).

Bem, apos esta breve paragem pelos aspectos escuros da lingua, nao me vou contrair, mas sim... descontrair um pouco. ;-)

Mario

Anónimo disse...

É preciso e importante defender o sentido das palavras mas há sentimentos vividos em certos espaços (temporais e geográficos) onde às vezes é preciso “inventar” palavras para os exprimir... Então quando se trata de traduções, as dificuldades são acrescidas. Com a tradução para francês do “livro do desassossego”, que ainda por cima Pessoa ortografava “desassocego”, os tradutores enfrentaram um quebra-cabeças: Livre de l’Intranquillité? Livre de l’inquietude?
Há sentimentos que só o poeta pode exprimir e deixam leituras plurais...
José Barros.

Anónimo disse...

O português é uma língua versátil, está visto. “Aprendi”, outro dia, um outro termo novo. Foi assim. Tinha umas pequenas obras lá por casa, um muro para refazer e endireitar e o sujeito não entendeu bem o que eu queria, colocou-me umas pedras noutro sítio. Observei-lhe, bem disposto, depois: “então tirou-me pedra daqui e foi-me por noutro lado onde não pedi?” – Resposta pronta do homem: “não se preocupe. Eu “destiro-as” de lá e ponho-as no lugar certo!” Como vêem, inventar português verifica-se em todo o lado, em Angola, por cá e sei lá onde mais!
P.Rufino

Fernando Correia de Oliveira disse...

Penso que Mia Couto terá sido o primeiro escritor de língua portuguesa a usar o "desconseguir" e outros neologismos semelhantes. Nem de propósito, esta noite, na rádio, ouvi Domingos Paciência, treinador da Académica, a dizer que é "desoportuno" falar da sua saída do clube.

O outro lado do vento

Na passada semana, publiquei na "Visão", a convite da revista, um artigo com o título em epígrafe.  Agora que já saiu um novo núme...