segunda-feira, junho 08, 2009

África

A morte de Omar Bongo, hoje confirmada, põe termo a uma liderança de mais de quatro décadas no Gabão. Para a França, trata-se do desaparecimento de uma personalidade que esteve quase sempre bem próxima de Paris - de De Gaulle a Giscard, de Mitterrand a Sarkozy, passando por Pompidou e Chirac - e que muito ajudou à gestão de tempos complexos na chamada "françafrique". Agora, resta esperar que a sucessão se faça de uma forma que não provoque situações de ruptura na ordem interna, como as que tiveram lugar, de modo desastroso, em outros países a antiga África francesa.

Nesse mesmo contexto trágico, não podemos deixar de lamentar a profunda crise que hoje afecta a Guiné-Bissau, onde violentas conflitualidades, ao que tudo indica exacerbadas por interesses criminosos que potenciam clivagens tradicionais, estão a destruir o já pouco que restava do sonho de Amílcar Cabral. Neste caso, Portugal deu já nota de estar disponível, se necessário for, para contribuir para uma solução de pacificação, de natureza regional, que possa abrir caminho à retoma da normalidade do processo constitucional.

Uma vez mais, Portugal mostra ser solidário com os países amigos, no prosseguimento de uma política externa que, sem tentações paternalistas, defende soluções de estabilidade e paz, assentes no respeito pelo Estado de direito. Alguns dirão que, em certos países, isso não passa de uma miragem longínqua. Pode ser que, por muito tempo, assim seja, mas importa perseverar e não perder a esperança. Uma política de indiferença seria o contrário da imagem que Portugal hoje tem pelo mundo e que lhe granjeia um grande respeito.

3 comentários:

Anónimo disse...

O petroleo do Gabao permitiu que Omar Bongo tivesse tantos amigos em França como no seu proprio pais. Ou talvez mais! Entre os amigos em França consta que contou com a amizade de todos os presidentes franceses desde De Gaulle, e que até propunha ajuda financeira, se precisassem, para as suas campanhas eleitorais. Era um bom homem! Contou ainda outros amigos de menos envergadura que tiveram de explicar no tribunal aquelas ligaçoes de amizade...
A riqueza do Gabao podia permitir à sua populaçao, de cerca de um milhao e meio de habitantes, de viver em muito boas condiçoes se o Presidente em vez de procurar estas amizades no exterior se tivesse preocupado durante estes 41 anos de presidência com o bem-estar do seu povo... a nao ser que estas amizades lhe permitissem a estabilidade politica que ele soube manter.
José Barros.

João Antelmo disse...

Bongo era o verdadeiro "dinossauro" da vida política africana. Ao contrário dos outros tiranetes com quem partilhou a concepção patrimonial do Estado e a confusão entre finança públicas e privadas, teve a sabedoria de, sempre que possível, comprar, cooptando-os, os seus adversários em lugar de os eliminar.
Quanto à Guiné Bissau, talvez a intervenção de uma força militar internacional (regional) possa ser útil e talvez seja bom que Portugal a apoie, com a condição de se abster estritamente de a promover e/ou a integrar, é claro.
No entanto, o que é verdadeiramente essencial é defender (e contribuir para) uma reforma radical e verdadeira do exército e da(s) polícia(s).
O "exército" actual só tem em comum com as forças armadas da independência uma boa quantidade de militares que ainda participaram na guerra contra Portugal, envelhecidos, desencantados, andrajosos e que continuam a arrastar-se nas casernas (se assim se pode chamar a um amontoado de ruínas)porque se as abandonassem morriam à fome.
De resto, é um conjunto de milícias recrutadas a cada nova convulsão para servir de guarda pretoriana ao novo "chefe", pouco seguro da lealdade dos restantes.
Aí, Portugal devia ser intransigente.

João Antelmo disse...

Omar Bongo era uma espécie de relíquia da política africana do tempo das independências.
Mas, ao contrário de outros tiranetes do continente com quem partilhava uma concepção patrimonialista do Estado e a confusão entre finanças públicas e privadas, teve a sabedoria de, sempre que possível, comprar, cooptando-os em lugar de os exterminar, os seus opositores e adversários. Isso e o petróleo (antes deste as madeiras) determinaram a sua longevidade como chefe de Estado.
Quanto à Guiné Bissau, talvez esteja correcto que Portugal apoie a intervenção de uma força internacional, desde que se abstenha estritamente de promover a sua criação e, ainda mais, de a integrar.
Mas o que é, de facto, essencial é defender e, aí sim, promover e participar, exigir mesmo como uma condição para a prossecução do apoio ao país, uma reforma real e radical do exército e da(s) polícia(s).
O exército guineense é hoje um conjunto de milícias andrajosas, recrutadas sucessivamente na sequência das numerosas convulsões políticas pelos “chefes” que se foram sucedendo, muito pouco seguros da lealdade dos restantes militares.
Amontoam-se em casernas e quartéis (se assim se pode chamar a ruínas em decomposição) transformados em tabancas e comem quando é possível.
De comum com o Exército saído da guerra contra Portugal, esta tropa só tem de comum uma apreciável quantidade de militares que ainda nela combateram e que só se mantiveram na tropa porque, se não o fizessem, cairiam numa miséria ainda maior e perderiam o “prestígio” da farda e da arma.
É aí que reside a razão essencial da instabilidade do país; a tropa é objecto do aliciamento de quase todos os actores e sectores políticos, que precisam dela para conquistar o poder e nele se manter quanto mais tempo possível – o tempo de arranjar um pé-de-meia, antes de serem afastados, vivos se tiverem sorte e esperteza.

Os EUA, a ONU e Gaza

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