quarta-feira, fevereiro 16, 2011

"Convite"

O truque só ficou revelado após alguns dos interlocutores terem trocado, entre si, experiências similares.

Aquele diplomata, homem jovial e simpático, já desaparecido há muito do mundo dos vivos, cuidava sempre em inquirir, através dos seus contactos, qual era a data e hora da partida das delegações portuguesas que lhe constava que visitavam a cidade onde estava colocado, como Cônsul-Geral.

Imaginemos, então, que uma delegação tinha previsto partir, de regresso a Portugal, numa 5ª feira, num voo à hora do almoço. Sabedor disto, o nosso homem, aí pela 3ª feira, cuidava em procurar o contacto com a chefia da delegação e formulava o seu "convite":

- Soube que estão por cá. Tenho uma semana complicada, cheia de compromissos há muito agendados, mas teria um grande prazer em convidá-los para jantar, em minha casa, na 5ª feira à noite.

A resposta era a óbvia. Os convidados "revelavam" que iriam partir na tarde desse mesmo dia, pelo que não podiam corresponder ao amável "convite" do Cônsul geral.

E o diplomata, "compungido", lá retorquia:

- Que pena! Tinha tanto gosto...

10 comentários:

cunha ribeiro disse...

Não terá o jovial diplomata aberto alguma excepção?
Apesar de lhe não louvar a atitude, pouco ética, se com ela poupou uns contos de réis, mercece ser exaltada.

Anónimo disse...

Não deverá ser o único a usar desse truque...tenho a certeza disso.

Mas caso seja um evento da área de moda, por exemplo um São Paulo Fashion Week, ou um evento de polo (desporto ultra popular em Portugal...) esse tipo de diplomata aparece....

Anónimo disse...

Senhor Embaixador,

Há uns bons anos um vice-cônsul (partiu desta para outra vida) na embaixada de Banguecoque, que de quando em quando, na ausência do chefe de missão, quedava-se encarregado dos arquivos.
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Naturalmente (hoje já assim não é) pela capital do Reino da Tailândia passava muita gente de Lisboa para Macau e vice verso e visitava a embaixada, cumprimentar o embaixador, apreciar a residência, histórica, de arquitectura sino-portuguesa, construída na década 70 do século XIX.
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Conforme o grau hierárquico do visitante havia um convite do embaixador para beber um copo, almoço ou jantar.
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Numa altura em que estava o vice-cônsul como encarregado dos arquivos, passou, vinda de Malaca, uma senhora do Gabinete (Drª. Manuela Aguiar) da Secretária de Estado para as Comunidades, onde tinha estado por dias a ensinar as danças regionais portuguesas aos descendentes de portugueses do Bairro de S.Pedro.
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A senhora (número dois Gabinete) trouxe, com ela, uma acompanhante e foi convidada para um jantar em casa do vice-cônsul e com a desculpa deste não convidar a senhora que a acompanhava dado que em sua casa não havia mais uma cadeira para a sentar à mesa.
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A senhora, nas costas do vice-cônsul foi “despejar o saco” da ofensa recebida e solicitou-me conselho.
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Respondi-lhe: “não vá senhora doutora e deia-lhe a desculpa que se encontra indisposta” .
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Assim aconteceu não haver jantar e o vice-cônsul viu-se livre de despesas.
Saudações de Banguecoque
José Martins

Anónimo disse...

Bem ...
Pelo menos salvaguardava as tampas...

Ás vezes ajuda a preservar a auto estima do anfitrião....

Nada que não se supere...

Isabel Seixas

patricio branco disse...

Não tinha mesmo nenhuma vontade de dar o jantar. Claro que o truque era grosseiro e não podia durar muito sem se descobrir a careca. Podia ter pensado em algo mais elaborado, inteligente.
Ele há cada uma!

Helena Sacadura Cabral disse...

Ó Senhor Embaixador, que bela ideia esse consul geral acaba de me dar!

patricio branco disse...

Sim, pegando no comentario de HSC, vendo bem trata-se de um optimo truque em tempos de crise.
E pegando na divertida hitória de JM tambem será bom truque limitar o nº de cadeiras em casa.

Anónimo disse...

Achei muita graça!

Não é uma atitude que prejudique alguém e... sempre poupou uns trocos ao erário público! :)

Isabel BP

Francisco Seixas da Costa disse...

Caro Rilvas: neste blogue, as historietas diplomáticas onde, por vezes, se anotam alguns "desvios" do comportamento que deveria ser seguido, são colocadas com "conta-peso-e-medida", por forma a que se não tome por regra aquilo que são simples exceções. O que relata no seu comentário vai - desculpe lá - um pouco para além daquilo que me parece ser de registar aqui. Embora não ponha em dúvida, minimamente, que alguém haja procedido assim...

Francisco Seixas da Costa disse...

... e agradeço a compreensão de Rilvas.

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