quarta-feira, outubro 05, 2011

Não enche!

Figura muito conhecida do mundo da banca e da finança do Brasil, desaparecida há uma década, Walter Moreira Salles, que também foi embaixador em Washington, era uma personalidade convivial e conhecida como simpática e de acesso fácil. Por isso, não terá estranhado quando, numa casa de banho de um restaurante, alguém se aproximou e lhe fez um pedido algo bizarro:

- O senhor podia fazer-me um grande favor! Sou empresário e estou ali numa mesa com clientes. Nem imagina quanto me ajudaria se, à passagem, pudesse dar um sinal de que me conhece. Se eles percebessem que sou conhecido de Walter Moreira Salles isso aumentaria, de imediato, o meu prestígio.

Salles terá achado a ideia, se bem que estranha, bastante inóqua. Pelo que anuiu, perguntando o nome do homem. Minutos depois, ao passar pela mesa onde o seu "conhecido" já tinha entretanto regressado, lançou: 

- Olá, João. Como vai você, meu amigo?

A reação é que não foi a esperada. O João olhou para Salles "do alto", como se ele estivesse a importunar a conversa profissional, e respondeu:

- Waltinho, não enche, tá?!

Dois amigos brasileiros, cada um a seu modo, contaram-me esta historieta, há dias. Acho-a um belo exemplar da caridade não reconhecida.

6 comentários:

Helena Sacadura Cabral disse...

Senhor Embaixador
A gratidão é própria dos grandes de espírito. Por isso, difícil de encontrar no meio empresarial. Mas é uma boa lição de vida, que tento seguir à risca.
Por isso jamais esqueci quem me ajudou. Mas também jamais esquecerei quem me prejudicou ou aos meus. E tenho memória de elefante!

Paulo Abreu e Lima disse...

Ou de como uma "cama de gato" (armadilha, no Brasil) pode ser (muito mal) utilizada para exercer um minuto de name dropping. Senhor Embaixador, até parece anedota de Juca Chaves, incrível a petulância!

zamot disse...

Não me parece que tenha sido falta de gratidão, apenas não ficou explícito no acordo a forma como João iría retribuir o cumprimento de Salles. Claro que é de muito mau fundo o modo como foi feita a reposta. No final do jantar, sería de esperar um agradecimento.
Mas de uma pessoa que acha que o seu prestígio aumenta por tratar com desprezo alguém pouco se espera.

No mundo dos negócios há grandes qualidades profissionais que andam no limbo com grandes defeitos humanos.

Anónimo disse...

Sr. Embaixador:

Não fosse o Sr. Moreira Salles um diplomata, e o correto seria pular na garganta do infeliz! Não lhe parece?

Isabel Seixas disse...

Realmente...

Anónimo disse...

O "Sô João" é casca-grossa!

Isabel BP

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