sábado, outubro 08, 2011

Sermão de domingo

As pessoas acreditam naquilo que querem acreditar. Em particular, acreditam no que lhes prolonga as ideias feitas, no que entendem como sendo "lógico" e no que lhes aparece como podendo desenhar-se como "óbvio". E se o que lhes é servido como verdade tem o condão de adubar sentimentos pré-existentes, então o processo de convicção pode dar-se como adquirido. Essa é a glória do criador da crença, para quem o supremo objetivo era construí-la, dá-la como evidência e vê-la partilhada, difundida e aceite como "a verdade". 

Ingenuamente, pode argumentar-se que, para além da crença, há que ter em conta esse pormenor, quiçá marginal, que são os factos. E que, às vezes, os factos apontam, de forma cristalina, no sentido de infirmar, em absoluto, a crença entretanto estabelecida. Neste caso, "tant pis" para os factos. Se acaso eles não acompanham o rumo da crença, esta dispensa-os, por irrelevantes e incómodos. É dos livros. Pirandello dizia que "a cada um a sua verdade". É verdade, cada um fica na sua. Apesar da verdade, na verdade, ser só uma. E, às vezes, a crença nada ter a ver com ela. Mas que importa? As pessoas acreditam naquilo que querem acreditar.    

15 comentários:

jj.amarante disse...

Ando-me a repetir: Passámos directamente da Idade Média em que o que interessava era a fé das pessoas e a obediência à hierarquia para o relativismo em que é tudo uma questão de opinião pessoal. Aquela parte do iluminismo e da eventual existência de uma realidade objectiva externa à nossa vontade passou-nos completamente despercebida.

andré maia disse...

Não sei se sou capaz de ser tão linear assim!...

Não sei se as pessoas acreditam, de facto, naquilo em que querem acreditar. As pessoas, se calhar - a esmagadora maioria delas - talvez não saibam por que acreditam no que supostamente vai alimentando as suas crenças.

Os sentimentos, como se fossem uma herança natural, são transmitidos e recolhidos como um testemunho vital. Não se cuida de lhes questionar os fundamentos e, depois, quem verdadeiramente se preocupa com essa coisa da "verdade"?!...

Anónimo disse...

Aceleraram tanto a história nos anos 70 que agora, os progressistas de ontem podem ser os conservadores de hoje e as relíquias de amanhã. Quando for preciso decidir vai ser bonito,

Anónimo disse...

Também se pode dizer: veritas filia temporis.

Helena Oneto disse...

"Bem aventurados os pobres de espírito porque deles será o reino dos céus". Este sermão vai direitinho ao encontro desta "verdade".

Cunha Ribeiro disse...

Belo texto.
A verdade deste texto é que ele é a expressão da VERDADE do seu Autor.
Sim, as pessoas pulverizam a verdade através de "verdades".
Eu cá vou desvendado as minhas. Porém, nunca estou satisfeito.
A verdade é que eu nunca acredito nas verdades dos outros sem as neuro-inspeccionar por mim próprio.

Helena Sacadura Cabral disse...

Senhor Embaixador
Portugal é um país que se alimenta de rumores e estes alimentam-se de voyeurismos. No qual, aliás, uma parte de nós se tornou especialista.
Os instrumentos de trabalho desta parcela de nós são certos jornais, algumas revistas e a televisão.
Só se contraria este fado "usando bem" os mesmos instrumentos. Mas para isso é precisa outra revolução. Em especial na educação.

Cunha Ribeiro disse...

Obrigado pela excelente sugestão Helena Sacadura Cabral.
A EDUCAçÂO , eis o pior do nosso país.

Anónimo disse...

Caro Seixas da Costa

Presumo saber o que o levou a escrever este texto, aliás magnífico. As canalhices e insinuações devem merecer de nós todo o desprezo em especial quando querem atingir pessoas dignas, como sei que você é.

Receba um abraço forte

Carlos SC

Helena Sacadura Cabral disse...

Senhor Embaixador
Dê um pulinho à minha casa.
Hoje falo do boato, com a mesma intenção do seu sermão dominical!

Anónimo disse...

Enigma...

Francisco Seixas da Costa disse...

Cara Dra. Helena Sacadura Cabral: Muito obrigado. Já tinha passado pelo Fio de Prumo e lido o seu oportuno post.

Anónimo disse...

Cá por mim prefiro acreditar em factos. E esperar decisões em função desses factos. É a lógica do Direito. Tudo o resto é fantasia que não compro. Ser terra a terra. Determinação, coragem e objectividade também ajudam a conseguir decisões.
O problema é que na maioria dos casos se sonha, não se tem coragem (quando se tem razão) e falta determinação. Não será, seguramente, o meu caso.
E assim se enfrentam as dificuldades da vida com sereninadade e capacidade de lhes dar a volta.
Z (o autor deste excelente Blogue conhece-me bem, quanto mais não seja pelo...Z).
Abraço!

Francisco Seixas da Costa disse...

Ao Anónimo das 20.58: quem, por um segundo, se possa ter sentido tentado a acreditar numa inventona de A a Z, mesmo sob o pobre efeito do ódio, deve ter-se enganado ao escolher ler este blogue. Passe bem!

Anónimo disse...

Resposta ao comentário do autor do Blogue, que não é para ser publicada, apenas para esclarecer: Ao que vejo houve aí algum equívoco. Ninguém, em momento nenhum, acreditou numa inventona, ninguém, em momento algum, imaginou que o Post lhe dizia respeito, fez-se apenas um comentário, sem qualquer intenção particular, nem atingir quem quer que seja. Muito menos se estava imbuído de ódio – como foi possível extrapolar a esse ponto! – sentimento condenável e que perturba o bom discernimento. E jamais se escolheria este Blogue para destilar ódios e discorrer sobre inventonas.
Houve aqui uma precipitação de análise do que se escreveu no comentário. Talvez até por minha culpa ao não ter percebido que o comentário no contexto do Post poderia ser mal interpretado. Mas, quem me conhece, deveria ter percebido que não sou capaz de inconveniências, de atitudes irreflectidas e inoportunas e muito menos de abusar de quem estimava.
Passemos pois ambos bem. Por mim, não tenho razões para fazer o contrário.

Maduro e a democracia

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