quinta-feira, fevereiro 21, 2013

Post impopular

Acho triste o contentamento que anda aí em certas hostes com o achincalhamento público e o boicote da palavra de um membro do governo. Em democracia, o direito à manifestação e até à indignação tem sempre de ser compatível com o respeito devido às figuras institucionais e, em particular, o respetivo direito à palavra. Por muito que alguns não gostem de certas autoridades da República, a verdade é que se trata de personalidades que assumiram os cargos que hoje ocupam com plena legitimidade. As formas públicas de expressar o legítimo descontentamento têm assim de ser compatíveis com o quadro de deveres que a democracia impõe. 

Sei que há quem não goste de ouvir isto embora desconfie que, se tocasse "aos seus", a posição dessas pessoas seria diversa.

32 comentários:

Anónimo disse...

Óviamente, estou de acordo! Mas julgo que existe uma questão complementar que não pode ser separada do caso concreto em apreço: é que as instituições tb têm de se dar ao respeito! Claro que não será o facto de não o fazerem que legitima todo e qualquer tipo de reacção, mas óbviamente alimenta-os.

Cumprimentos,


MRocha

Helena Sacadura Cabral disse...

Não deveria ser um post impopular num país democrático.
A indignação é mais do que justa, mas não pode usar os métodos que para si própria condena.

freitas pereira disse...

A tolerância em política consiste em aceitar e respeitar os direitos fundamentais e as liberdades civis dos indivíduos e dos grupos de quem não se partilham os pontos de vista.

Todos os cidadãos, incluindo os dirigentes políticos, têm por obrigação de praticar a tolerância nos seus discursos e nos seus actos. O que permite de recusar o axioma segundo o qual "a força faz a lei", a tolerância em política é um princípio fundamental da democracia.

Falta saber, até que ponto, na sociedade actual, os direitos fundamentais do Homem e do Cidadão, são realmente respeitados pelos dirigentes políticos ou pelo Estado que eles representam.

Existem, hoje, intolerâncias ou discriminações contra certas categorias da população que constituem uma ameaça para a democracia e reduz o campo de visão política dos cidadãos e determina o seu comportamento.
Sobretudo, quando se sabe que a educação e a participação à vida política que contribuem a cultivar a tolerância dos cidadãos, não foi, desde sempre, a preocupação essencial dos regimes políticos sucessivos.

J. dc Freitas

Anónimo disse...

Esta do “aos seus”, tem que se lhe diga… o governo não é de Portugal mas (é o governo) dos seus (deles)…
Não é que já não parecesse… mas tão explícito?…
E a falta de respeito, se calhar, nem é tanto com o ministro. Sendo manifestações organizadas politicamente, a falta de respeito é bem maior para quem está mesmo a sofrer e nem sequer tem condições para se manifestar, não lhes interessando para nada estes jogos partidários.

Anónimo disse...

Este Post não é impopular. Longe disso; Está com a maioria.

Anónimo disse...

Por conseguinte, o que deveriamos ser era uma Democracia muito limpinha, muito arrumadinha, tudo e todos muito civilizados. E quando um governo destrói, serenamente, o país como este o está a fazer, a rapaziada deve ser comedida nas suas acções de protesto. Cantar a Grândola e inviabilizar uma apresentação (ainda por cima de um Ministro cujo credibilidade e consideração política bateu no chão) é uma inaceitável rebeldia, que deve merecer a nossa mais funda reprovação. Aqui, neste pacífico país, canta-se aos governantes, como forma de protesto, ou, por vezes, impede-se um governante de falar, noutros queimam-se viaturas, partem-se montras, etc. Mas, mesmo assim, ainda deveríamos ser mais contidos. Concordo consigo. Um excelente Post. Senhores manifestantes, vejam se têm tino e de preferência aguardem mais 2 anos e picos “para então dizer ao Mundo” (como aquela canção do Zeca) que já não querem mais este governo e votarem noutras opções. Assim é que deve ser. Estes protestos estão, na realidade, a passar das marcas, no que á Democracia respeita. Não há direito!
Jorge Vieira de Lima

São disse...

Concordo, mas acho incrível que Montenegro venha falar em ataque à Democracia.Principalmente, face ao que o Governo tem feito durante este tempo de mandato...e, outra coisa, agora já acha o PSD que a Constituição deve ser respeitada?!

Quanto à legitimidade formal, este Governo tem-na, pois foi eleito em eleições livres. No entanto, não penso que tenha outra além dessa(que é crucial, aceito), pois está a governar totalmente ao arrepio do que disse à população portuguesa.

Como é óbvio, não aceito a desculpa mais que esfarrapada que desconhecia o verdadeiro estado do país e que há sempre certa "fantasia" nas campanhas eleitorais.

Eu disse sempre que quem quer ser respeitado , tem que respeitar.

Francamente, nunca vi tanto desrespeito por portugal como vejo neste conjunto de criaturas que estão actualmente no Poder!!

Bom serão

ARD disse...

Discordo.
A "autoridade" em questão ocupa legitimamente o cargo que exerce. Já saber se todos os actos que pratica estão cobertos por esse manto diáfano da legitimidade, é outra questão.
Por outro lado, a "autoridade", com o currículo que ostenta, em que a opinião pública detecta a forma, digamos, apressada com que executou o seu percurso académico, ir falar a uma instituição universitária é, passe o plebeísmo, "pôr-se a jeito"; como é "pôr-se a jeito" ousar falar sobre jornalismo o notório silenciador de jornalistas.
Além disso, as autoridades, por mais legitimidade eleitoral que tenham, devem estar preparadas para o escrutínio permanente dos eleitores e para a sua crítica, por acerba que ela seja.
O ministro Relvas foi alvorecer uma acção de protesto perfeitamente legítima, mesmo que excessiva.
Tentar vitimizar-se é ridículo e insultuoso.

Anónimo disse...

Caro Embaixador:

Permita-me esta pequena brincadeira:

Pergunta

“O senhor ministro tem que perceber que a barricada da liberdade, desta vez, não está do lado do PS, mas do lado dos professores e não tem que ficar indignado que estes se manifestem e reclamem os seus direitos”.

a) Vital Moreira
b) António Barreto
c) Francisco Assis
d) Miguel Relvas

Resposta:

Saudações democráticas.

Rubi disse...

Concordo senhor embaixador. O que me intriga também é que a TVI tenha convidado tal personalidade para falar de jornalismo, numa Universidade de renome e bem diferente da instituição onde esse membro do governo fez uma licenciatura à papo seco. Obviamente que não o querem ouvir, eu também não quereria.

Anónimo disse...

Infelizmente tem razão. Há quem seja exímio em defender nos seus o que critica aos outros.

N371111

Defreitas disse...

Snr.Embaixador: Há alguns aspectos que gostaria, se me permite, de acrescentar ao meu comentário precedente, depois de ler a imprensa portuguesa sobre os incidentes objeto do seu "post".
Desta leitura retiro a impressão que não há nada , hoje, mais frágil, que a noção de "cité" , no sentido forte da "polis" grega!

Ninguém pode ser cidadão sozinho, mas acontece que se seja cidadão na ausência de" cité", cidadão duma "cité" já desmoronada, ou duma "cité" ainda ausente.

Que pode significar a cidadania no turbilhão da globalização? Pode-se ser cidadão duma "cité", duma sociedade humana, sabendo que ela não existe que entre outras, e agora num horizonte planetário?

A cidadania não se bate só contra as injustiças, mas contra as humilhações que roem mais profundamente ainda a sociedade: a humilhação de ser inútil e inutilizável num emprego qualquer, a humilhação de ser submetido sem ter nada a dizer nem a fazer, a humilhação de não ter fé em nada. Ser cidadão, é detestar esta tripla humilhação, é tudo fazer para romper esta maldição.

O risco seria de sermos submersos por uma forma de sociedade apolitica, onde as leis seriam moldadas em dispositivos puramente técnicos de controlo e vigilância.
Ora não pode haver cidadania que numa sociedade onde as regras permanecem morais e políticas.

J. de Freitas

Anónimo disse...

Respeito
O respeito é como um espelho que nos envia uma imagem. Aquela imagem de respeito reverberante. E porque somos respeitados, voltamos a respeitar, grandes e pequenos, da alta ou da sociedade corrente. Todos quantos nos mereçam respeito:
Os nossos pais, os nossos filhos, o nosso chefe ou diretor, os nossos governantes...
Os nossos governantes ?
Sim senhor, o s nossos governantes...
E se não merecem respeito ?
É a história do espelho. Se não há imagem... não há respeito!

Anónimo disse...

Recuso o gosto politicamente correto!
A. Santos

Anónimo disse...

Post impopular?
Pelos vistos não conhece bem o seu fiel público...
xg

Helena Oneto disse...

"(...) personalidades que assumiram os cargos que hoje ocupam com plena legitimidade"!?
O "hoje" e "legitimidade" diz muito da nossa democracia actual...
Pela primeira vez estou em desacordo consigo, Senhor Embaixador e em total acordo, uma vez mais, com os comentarios de J de Freita e de ARD.
Como afirmou hoje a vice-Presidente da Comissão Europeia em Coimbra, o protesto, legitimo, foi cantar o "Grandola Vila Morena"... sem petardos nem bombas!

Além de impopular, este post era "desnecessario".
Désolée, mon très cher ami.

Francisco Seixas da Costa disse...

Eu sabia. Claro que este post era "desnecessário". Talvez eu seja um legalista inveterado, mas o que escrevi é exatamente o que eu penso, esteja quem estiver no poder, goste eu ou não de quantos ocuparem os cargos públicos. A liberdade é isto mesmo: dizer o que se pensa. Certo ou errado e, principalmente, sem nos preocuparmos de quem gosta ou não. A reação que suscitou foi uma razão mais a justificar a decisão de ter publicado o post.

Isabel Seixas disse...

De qualquer forma não foi bonito de se ver.
Mas o desespero faz perder as estribeiras.
Continuo a achar que não havia necessidade de chegar à incontinência verbal.

António Pedro Pereira disse...

Senhor Embaixador:
O seu post é de uma clareza e firmeza de princípios a toda a prova.
Eu concordo em absoluto com a posição que defende.
Mas quanto aos protestos, eu faço uma leitura um bocado cínica.
Mas talvez não seja despropositada para o momento cínico que vivemos.
Aqui vai:
Tenho para mim que este suscitar as manifestações por parte do governo não passa de gato escondido com rabo de fora.
O ministro Relvas, depois de ter sido desmascarado na equivalência folclórica da Licenciatura, remeteu-se um pouco ao silêncio, quase desapareceu do palco.
Era ainda o tempo dos «amanhãs que cantariam» de Gaspar.
Agora, com os indicadores económicos quase todos de pantanas: queda do PIB (recessão continuada); aumento da dívida pública para 198 mil milhões; défice (qual Alfa & Ómega) aliviado pela Troika mas mesmo assim incumprido; desemprego galopante; iminência de desagregação do tecido empresarial das PME; iminência de desagregação social; emigração galopante, eis que o Relvas regressa em força à ribalta.
E ainda não chegou à economia o efeito da bomba atómica do tão desejado e salvítico corte dos 4 mil milhões.
É que assim, com todo este folclore dos boicotes, das cantorias da Grândola, se marca a agenda política e mediática.
Desaparecem ou são reduzidas ao mínimo as más notícias sobre a economia e as pessoas.
Não se fala dos antigos gestores (especialistas na vigarice) do BPN / SLN, que foram quase todos colocados na gestão das actuais sociedades-veículo dos activos tóxicos do BPN / SLN (a Parvalorem, a Parups e a Parparticipadas). Quem melhor conhece do assunto para dar «eficácia» à coisa?
Fala-se menos do senhor Salgado, que regularizou o seu esquecimento de 8,5 milhões de euros junto do DIAP e do Fisco… a seu pedido.
Fala-se menos dos 2/3 da pensão do senhor Jardim Gonçalves (de 175.000€ / por mês) que estão isentos da contribuição solidária.
Fala-se menos dos «preguiçosos» que começam a perder apoios (desempregados, RSI)… puxa, já não era sem tempo.
Fala-se menos do desemprego que cresce de forma galopante apesar da igualmente crescente emigração.
O regresso do parolo do Relvas não é inocente.
Há sempre um bobo da corte disposto a divertir o pessoal.
Acho estranho que os manifestantes, que têm legitimidade e razões para se manifestarem, não se apercebam de que com o folclore relvítico se está, ou pode estar, a voltar contra eles.
Só falta um murro no Relvas para se criar um novo caso Mário Soares na Marinha Grande.



patricio branco disse...

fazendo de advogado do diabo, cada vez estes episódios sucederão com mais frequencia - o rechaço a certas figuras do governo, para não dizer a quase todo o governo, é tal que quando uma está perto ou à mão os entimentos e emoções têm de sair. é como uma forma de lhes dizer directamente e cara a cara: não gostamos de vocês e da vossa governação, estamos a sofrer demasiado. não é por má educação nem é uma falta de respeito gratuita ou um mau comportamento, é simplesmente uma maneira e uma oportunidade de lhes mostrarem (aos membros do governo) descontentamento, desespero, quando eles estão à frente ou ao lado. o governo tambem tem de perceber que a grande maioria dos cidadãos está descontente. enfim, cada governo tem do povo o que merece e quem semeia ventos colhe tempestades.

Manuel Leonardo disse...

Cronicao Impopular

Na manha do dia 1- de Dezembro de 1640 Joao Pinto Ribeiro o principal instigador da Conspiracao de 1640 ,encontrou um amigo na rua que muito admirado lhe perguntou :
_ " Aonde vai amigo ,com essa pressa toda e a esta hora ?...Logo Joao Pinto Ribeiro lhe respondeu :
_ Venha comigo ali a baixo ao Palacio da Independencia (.) e num instante , tiramos um Rei e pomos outro ! " .

P.S. - sem politica - Infelizmente para mim , ja' tenho contactado com alguns politicos e diplomatas ao longo da minha vida .Somente ha' pouco tempo tenho tido o prazer de trocarmos impressoes neste seu blogue o qual tenho apreciado imenso mas ja me deu tempo suficiente de verificar - o Senhor ainda nao e' a excepcao -que tal como os outros politicos ou diplomatas joga as cartas com dois baralhos . o que como diplomata lhe fica bem mas um pouco mal como politico .
Ao fundo da questao parece-me que ninguem esta' interesado em ir mas mais uma vez eu vou la' :
Os PCP os verdes que ja nao existem,os BE , CDS PSD e algum povoleu quizeram matar um Homem ,nao o conseguiram matar mas mataram uma Nacao quase milenar !!!
Alguma vez os partidos CDS, PSD em eleicoes regulares estariam agora no Poder?
Ja me ia esquecendo de dizer que "cantigas levam-nas o vento !!! "
Os portugueses estao muito bem , votaram DEMOCRATICAMENTE e teem o que quizeram .
respeitosamente assina o
Manuel Joaquim Leonardo
Peniche Vancouver Canada fielamigodepeniche.blogspot.com

Anónimo disse...

Henrique Raposo, num artigo seu hoje no Expresso on-line escreve algo que coincide mais coisa menos coisa com o que diz neste Post.
Fernanda Ferreira

Anónimo disse...

Um áparte: O Relvas do PS sempre é mais inteligente, depois dos estudos aprofundados em Paris (2 anos...!), é desde Janeiro consultor de administação duma farmacêutica no Brasil.

Benditos países que aproveitam uma das melhores cabeças de Portugal !

Alexandre

Anónimo disse...

(...) Espanhóis, gregos, italianos, franceses, ingleses... a generalidade dos povos ficaria de boca aberta ao saber que os protestos ruidosos mas pacíficos no ISCTE mereceram sequer este debate em torno dos direitos fundamentais de um ministro. Só pode estar tudo doido. A vice-presidente da Comissão Europeia resumiu bem o olhar externo sobre estas formas de protesto: "feliz é o país onde a oposição se manifesta através de uma canção e não pela violência" (...) Daniel de Oliveira

Carlos Fonseca disse...

"Talvez eu seja um legalista inveterado(...)", escreve o senhor embaixador.

Nesse caso, como explica que tenha desrespeitado a legalidade vigente em Abril de 1974, colaborando activamente com os revoltosos?

Ou melhor: sendo um dos revoltosos "desrespeitadores" da lei?

P.S. - Acho que no caso do ISCTE os estudantes fizeram um favor ao ministro, sobretudo se o discurso que ia proferir era da sua lavra. Isto é, um chorrilho de lugares comuns.

Que sabe o homem de jornalismo, para além de forçar o despedimento de jornalistas?

Anónimo disse...

De ERA UMA VEZ

Meu Caro Embaixador

Se tudo fosse certinho, respeitador e dentro das normas não tinha havido por aqui uma revolução, não é?

E, do que tenho lido, festejou-a e acreditou nela como tantos de nós.

Quando se passam barreiras de bom senso e respeito pelos outros, não se pode esperar ser recebido com as atenções que o cargo confere. E todos sabemos que este "piqueno" é demasiado sinistro para que possamos dormir descansados.

Quando um povo canta devia ser ouvido, é sinal que lhe cresce um grito no peito.
A primeira vez que ouvi "a Grândola" foi em Fevereiro de 74 no Coliseu. Cantámo-la com o Zeca
e nesse abraço de esperança percebemos que alguma coisa iria acontecer.E aconteceu.

Já tínhamos percebido vários talentos no Sr. Ministro, vender, destruir, hipotecar o nosso futuro, enfim...
Faltava saber como pode DESAFINAR
e ridicularizar a memória colectiva de um povo.

Aquele ar apatetado de quem parece alinhar...é bem o retrato de um espertalhaço que nos envergonha como povo.

É bom que continuemos a cantar já que "ainda" não podemos ir às urnas.
Estou com a minha amiga Oneto. Desta vez não.
"Venham mais cinco"

Anónimo disse...

Consultor ou delegado de propaganda médica? Será que "comerão" a mesma banha da cobra?
Mas não há dúvida que temos governantes geniais. Agora o Presidente descobriu que alterando uma letrinha apenas se escrevem as palavras "novos mandatos autárquicos".

António Pedro Pereira disse...

Nesta questão podemos elencar 3 aspectos relevantes que estão em causa: a liberdade de expressão; a eficácia do protesto; as intenções do frenesi comunicativo de Relvas.
Sobre o 1.º, o post do senhor Embaixador é bem elucidativo;
Sobre o 2.º, transcrevo um bocado de um post de Porfírio Silva, «Os equívocos dos boicotes», no seu blog: Machina Speculatrix.
«O que está em causa, a meu ver, é outra coisa: é o respeito pelos espaços institucionais e sociais de confronto de ideias. Uma canção, uma berraria, uma pateada, uma vaia, podem perfeitamente servir para incomodar, mas não servem para expor a força das ideias alternativas. Eu perceberia melhor se aproveitassem sessões públicas para dirigir, intempestivamente que fosse, perguntas incómodas aos ministros. Obrigar um ministro a responder - ou a exibir a não resposta - a uma pergunta significativa, a uma pergunta que mostre os silêncios da governação sobre aspectos gritantes da realidade, que exponha as contradições entre o programa e a prática do governo, que obrigue a pensar nos efeitos da governação e confronte os responsáveis. Acho que isso seria mais democrático, não constituiria nenhum ataque à pessoa do ministro (o que é, de facto, inaceitável), colocaria as questões no plano da cidadania (abrir espaços de debate que não respeitem o formato escolhido pelos governantes para falarem) e, suponho, seria compreendido mais favoravelmente pelas pessoas que não querem que o seu desespero seja instrumentalizado como "campanha preparatória" para manifestações ou quaisquer outras acções, por muito legítimas que sejam.
Quando, em 1969, Alberto Martins, presidente da Associação Académica de Coimbra, se dirigiu ao presidente da república a pedir a palavra, em nome dos estudantes, numa sessão solene que não estava para ouvir os estudantes, provocou um efeito duradouro na história da resistência à ditadura - mas esse efeito não se deveu a nenhuma agressividade no gesto (o seu pedido foi educadíssimo), antes se deveu ao seu sentido profundo e à sua justeza. Não seremos capazes de reinventar gestos de protesto mais claramente relevantes pelo seu conteúdo do que pela agressividade explícita que exibem?»
Sobre o 3.º, manifestei anteriormente, neste espaço, a minha interpretação, um bocadoo cínica, confesso.
Mas não menos cínica do que a realidade em que vivemos.
Quem estiver interessado é só recuar 9 comentários e ler.

EGR disse...

Senhor Embaixador : acompanho-o na sua posição " de legalista inveterado"
E,já agora, permita-me acrescentar: só faltava que os protestos tornassem-se Miguel Relvas em vitima da defesa da democracia.

Defreitas disse...

Do Capitao de Abril e escritor : Carlos Matos Gomes

O expressionista!



A ideia de fazer do Relvas uma vítima do fascismo e da falta de liberdade de expressão revela que o infinito existe. Neste caso 2 infinitos: o infinito impudor de uns, que sabem o que dizem (os manipuladores) e a infinita ingenuidade de umas almas que acreditam que a vida é como os antigos filmes de cobóis: no final faz-se justiça e os maus são castigados.

Primeira questão, a falta, ou impedimento, de liberdade de expressão ao Relvas. Ora o que o Relvas mais tem tido é liberdade de expressão! Liberdade para aldrabar currículos universitários, moradas, liberdade para dizer uma coisa e fazer outra, liberdade para dizer hoje uma coisa e amanhã outra. Liberdade para aceder a todos os púlpitos. A relação entre o Relvas e a liberdade de expressão é de excesso. O Relvas é um expressionista! O que está a acontecer ao Relvas resulta do excesso de liberdade de expressão. Ele enojou o comum dos cidadãos com o excesso da sua liberdade de se expressar por títulos académicos, por negociatas, por exibição de ostentação em eventos sociais e por mil casos que já fazem dele a maior fonte de anedotas nacional. O que está acontecer ao Relvas com a liberdade de expressão é o mesmo que aconteceu ao sapo da fábula que começou a fumar e rebentou.

Segunda questão: os compungidos. Os compungidos são de dois tipos: os políticos que querem prevenir-se de igual sorte e ter argumentos para tal. Isto é, os que se antecipam ao verem as barbas do Relvas a arder e os do tipo dos sacristães, que estão sempre do lado da ordem, os religiosos, adeptos da resignação porque ela redime e até paga em esmolas (e quantos as esperam e quantos vivem delas!)

Quanto ao que está a acontecer. O que está a acontecer não tem a ver com a liberdade de expressão. Tem a ver com a falta de respeito. Falta de respeito do Relvas pela sociedade onde se apresentou ao serviço como politico e se transformou à vista de todos (foi essa a imagem que deu de si) num videirinho. Falta de respeito da sociedade pelo Relvas que, sendo ministro, membro de um órgão de soberania, merecia um mínimo de respeito institucional. E é esta falta de respeito na sociedade que devíamos estar a discutir e que nos devia preocupar. Devia preocupar também, digo eu, aquele senhor que vive em Belém (acamado, presumo).

Anónimo disse...

A velha senhora - que tem acompanhado, divertida e entusiasmada, esta juvenil 'grandolação' contra o governo - diz que se alvarinhou em força para tentar entender os puristas da democracia e que não os entendeu. ditou-me sonetilho sobre a coisa (com rimas pobres em ar e ão: facililitações de velha, coitada) e cantilena sobre as opiniões das amigas:

1.
vulgar abominação
não deixar relvas falar
a opinar opinião,
um tão, tão grão luminar?

com azar ainda o vão
privar de oraçäo na ar
os que lá dão servidão
ao ministro tutelar?

estar contra a pop'lação
por tal ação, apesar
da 'exemplar governação'?
foi opção de elementar
democrática eleição?

porra, não? vão-se lixar!


2.
mulheres de armas, amigas,
discordamos com fervor:
bela helena é plas cantigas,
grande helena vem-se opor,
co' o autor, ela faz figas
contra um(a) qualquer que for
a favor: nós, raparigas,
era uma vez e este estupor.
isabel seixas talvez,
como sempre, desta vez...

Isabel Seixas disse...


Senhor Embaixador se me permite, o esclarecimento a alguém por quem já tenho muita consideração.

Ó cara velha amiga...

Claro que as vozes Atentas
armas da sustentada liberdade
Me lavam a alma da tormenta,
que me gera, destes politicos a leviandade...

o cinismo adquire-se nos berços de ouro tão cómodos que já nem sentem o frio do desespero dos pobres...

Mas a força agora reside, na lata, dos insensiveis, que aprenderam uma versão aparentemente democrata, em discursos de cadência de magnata, num timbre gelado que abafa a equidade na razão, dos direitos inalienáveis no acesso ao pão, com gritos de indignação...

Da sua acutilância
Que admiro e me sossega
Porque desta extravagância
dos filhos da mãe,que ainda impera,
são pessoas como a Senhora e a nossa Oneto Helena
Que nos darão força e coragem
para dizer Nããããããããããão,
a esta vagabundagem
que da habilitação académica e politica
faz mau uso para nos, ao povo, fazer pilhagem.

Além de cantar Mal
o "cavalheiro" em questão
desafinou como sempre com a desfaçatez do gozão, conspurcando sem pudor o hino do povo da libertação.

Agora que nós sabemos, que eles sabem, que nós também sabemos mostrar o direito à indignação com voz pausada a um mínimo de decibeis e rotação para cumprir os preceitos protocolados para a educação, para não perder o que eles querem a nossa razão,...!

É só isso.

Ainda para além do espaço de debate que o Sr. Embaixador nos permitiu, identifico-me com os comentários da maioria dos comentadores salientando Defreitas, de António Pedro Pereira, de Patricio Branco.

Querida Helena Oneto só para lhe dizer que era bem capaz de me colocar no meio dos manifestantes da mesma forma que acho o post Pertinente e mais que necessário, reforçando o que anteriormente disse.

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Nas aldeias, os cartazes das festas de verão, em honra do santo padroeiro, costumam apodrecer de velhos, chegando até à primavera. O país pa...