quarta-feira, junho 21, 2017

Interesse público

Posso entender que um órgão de informação se permita elaborar sobre o presumível interesse do público que o lê, ouve ou vê. Algum "feedback" que receba dos seus leitores, ouvintes ou espetadores confere-lhe o direito de mandar "bitaites" sobre aquilo que quem os acompanha pode querer. Não é certo que acerte, mas é legítima essa sua especulação.

O que não admito é que alguém, saído de uma redação, sem a menor representatividade, se arrogue o direito de vir definir, ou a marcar arbitrariamente como baias da sua produção jornalística, o que ele acha que é o "interesse público". Já a formiga tem catarro! 

Todos sabemos que esse é, as mais das vezes, um simples alibi para "mandar às urtigas" a ética (que é sempre interpretada como dá mais jeito), a deontologia (numa classe que perdeu todo o respeito por um código de conduta minimamente consensualizado) e, pura e simplesmente, um pretexto fácil para publicar e mandar para o ar o que sabe que a avidez sensacionalista e "voyeuriste" de algum público melhor consumirá. 

Da mesma forma que a "opinião pública" é uma coisa diferente da opinião publicada, também o "interesse público" não é, simplesmente, o que interessa ao público,

Algum jornalismo que por aí anda sabe que, no fim da linha, contará sempre com o tropismo "libertário" de um sistema judicial que, "empanicado" desde o 25 de abril por uma interpretação laxista e temerosa da "liberdade de imprensa", sentenciará a seu favor, raramente em proteção dos ofendidos ou dos valores da privacidade.

Sei não ser politicamente correto estar a escrever isto - logo eu, que escrevo regularmente em jornais e revistas, que às vezes vou pelas televisões. Mas é o que penso.

E representa o que escrevi uma crítica ao sistema de Justiça? Claro que sim! A democracia não tem vacas sagradas.

10 comentários:

Anónimo disse...


Ai Ai Ai!!!

Mas então como proceder para não irmos parar ao que se tinha feito antes de 1974. É que os jornais antes de 1932, em Portugal, eram uma bagunça muito grande degladiando-se uns com os outros e com os respectivos financiadores, como as moagens e etc. etc.

Estaremos a chegar á necessidade de voltar à primeira forma como se dizia na tropa.

Os jonais para mim de há uns anos a esta parte existem para eu os não ler.

Televisão vivo bem sem aparelho e as poucas notícias que tenho são as curtas da rádio. E mesmo assim vivo muito bem. A massificação das notícias, tal como outras massificações do "post" 74 perderam há uns bons anos a minha atenção e vivo muito bem sem stress porque no dia seguinte já não teem actualidade. Há ainda os jornais online especializados, estrangeiros, que me dão a noção do que se passa neste mundo.

Façamos greve aos orgãos informação portugueses durante uns tempos talvez seja uma forma de sensura à imprensa.

Anónimo disse...

ah que exaltaçao senhor embaixador, que exaltaçao... nao vale a pena... mudar as coisas? ....... para quê?.......

http://www.jornaleconomico.sapo.pt/noticias/suspeita-de-fraude-nos-exames-para-magistraturas-128384
http://www.jn.pt/sociedade/interior/futuros-magistrados-apanhados-a-copiar-punidos-com-nota-10-1878772.html


......

Anónimo disse...

Tem sim senhor:

As vacas voadoras do Sr.Costa !

Anónimo disse...

Estamos novamente na época em que é preciso ir à Internet ler jornais para saber o que acontece.

Joaquim de Freitas disse...

Hoje, infelizmente, raros são os profissionais do jornalismo capazes de impor um mínimo de escrúpulos e de « savoir-faire » no fazer. A estupidez, como metástases, desenvolveu-se neste corpo profissional a um ritmo terrível e mortal.•

Nomes que teríamos tomado como modelos na profissão estatelaram-se na indigência ética mais suja., mais banal e mais desonrosa com a sua caneta, o seu micro ou o seu “smartfone”.
A média chegou ao zénite da grande estupidez. Presentemente, quem mais é idiota nesta profissão, mais dá a lição aos outros e tem sucesso.

Quem é mais corrupto e bandido, mais ruidoso se apresenta e mais quer apresentar-se como dono de todas as virtudes, as virtudes com micro de vendidos e de mercenários.
Dizem, deixam dizer e escrevem não importa quê, sobre não importa quem, quando e não importa como.

Uma profissão na qual a barra do sucesso se encontra agora nas sarjetas e não nas alturas

Mas aparentemente, é este nível que é mais remunerador no público, que, infelizmente, não voa frequentemente muito mais alto que a média que escolhem nos quiosques ou na TV.•

Manuel do Edmundo-Filho disse...

Não podia estar mais de acordo! Mas, em última instância, o problema está na falta de coragem da nossa classe política em "tocar" no sistema das vacas sagradas (que quando se trata de reivindicações de ordem laboral “descem à terra” e ameaçam com greve como os mais comuns dos trabalhadores). Ou seja que está "empanicada" é a nossa classe política.

carlos cardoso disse...

Embora compreenda o que quer dizer, acho que o discurso do Sr. Embaixador pode tornar-se perigoso, se for interpretado no sentido politicamente correcto de dar mais importância às diferentes "sensibilidades" do que à liberdade de expressão.

Considero a liberdade de expressão suficientemente importante para preferir que possa ser mal utilizada a que seja limitada para tomar em consideração as susceptibilidades das cada vez mais numerosas "virgens ofendidas". Infelizmente assistimos a uma deriva que tenta levar-nos para o tempo do lápis azul da outra senhora. A única diferença é que o lápis foi substituído pelas chamadas redes sociais.

Estou de acordo com a constatação que o jornalismo português (e não só) actual contém muito lixo. Códigos deontológicos, elaborados pela profissão, devem ser claros, concisos (limitados ao essencial) e, sobretudo, devem ser cumpridos. E claro que os tribunais devem servir para corrigir, não para fomentar, os abusos.

Anónimo disse...

Já não há jornais a sério como o Pravda, dirá o outro...

Anónimo disse...

Infelizmente, os jornalistas atiram-se como abutres a acontecimentos trágicos, como os incêndios de Pedrógão e Góis. Surgem ilustres conhecidos em casa deles a perorar, fazendo as mesmas afirmações vezes sem conta, com vozes estridentes e de tal forma gaguejantes que me levam, a maior parte das vezes, a eliminar o som da tv para não ficar com os nervos em franja.
E o pior são os ilustres conhecidos do país, gente que deveria ser mais responsável, como Judites e Victores, que sem nada fazerem de útil (que tal seguirem o exemplo de André Villas-Boas, e restituírem à sociedade um pouquinho daquilo que ganham porque a sociedade-alguma- os vê?) se apressam a procurar culpados políticos (de preferência) e exigir cabeças. Respeitava Victor Gonçalves, mas quando ontem o ouvi perguntar à ministra Constança Urbano de Sousa se não achava que se devia demitir, ouvi apenas a resposta da ministra (admirável resposta) e depois mudei de canal. Não penso tornar a ouvir qualquer programa em que intervenha Victor Gonçalves.
Esta "espécie" de jornalistas teriam o papo cheio se tivessem vivido durante a II Guerra - ficariam entretidos a perguntar de quem foi a culpa, por exemplo, dos bombardeamentos aéreos de Londres. Com jeito, ainda teriam pedido a demissão de Churchill. Haja pachorra.

Anónimo disse...

Tudo na vida deve ser contextualizado numa dimensão espaço e tempo.
Até os gritos de alma!
Porquê este grito de alma? Logo agora!

É de facto terrível passarmos da euforia para um país que deixa morrer os SEUS na berma de uma estrada.
E qual é o interesse público?
Acontece na vida, ainda que só por vezes, estarmos no lado errado da barricada.

Os borregos

Pierre Bourguignon foi, ao tempo em que eu era embaixador em França, um dos grandes amigos de Portugal. Deputado à Assembleia Nacional franc...