quarta-feira, março 11, 2009

Sotaque português

Uma amiga brasileira perguntou-me, há dias, se eu achava que existia um "sotaque português". Fiquei um pouco surpreendido com a pergunta, a qual foi formulada, porém, com toda a naturalidade e sem segundos sentidos.

Um sotaque é uma variante de pronúncia face àquilo que cada um de nós considera ser a norma. Para um português, a forma como os brasileiros falam a língua é, obviamente, um sotaque: o sotaque brasileiro.

Porém, devo confessar que, quando cheguei ao Brasil, fiquei muito surpreendido pelo facto de ouvir falar no meu "sotaque português" - a que os brasileiros acham "uma gracinha". Demorou algum tempo até eu me habituar a este conceito, que achei inicialmente muito estranho.

Um dia, ao visitar o Museu da Língua Portuguesa, em S. Paulo, e ao verificar que, para os brasileiros, o "português" se identifica, com toda a naturalidade, com o modo sonoro como falam mais de 190 milhões de pessoas residentes no Brasil, compreendi então que tem alguma lógica que qualquer variante face a essa matriz passe a ser vista como um sotaque. Logo, no Brasil, os portugueses têm, sem qualquer dúvida, um especial sotaque ao falarem... português.

Há, contudo, uma advertência que devo fazer ao meus amigos do Brasil: não se admirem se a esmagadora maioria dos quase 10 milhões de cidadãos portugueses continuarem a considerar esta ideia muito bizarra.

Tudo isto faz parte da diversidade da lusofonia...

Chipre Norte

Há muitos anos, o Sporting Clube de Portugal bateu a equipa do Apoel, de Chipre, por aquela que ainda constitui uma marca record em competições europeias: 16-1.

Com o resultado desta eliminatória contra o Bayern, Portugal passa a poder ser considerado uma espécie de... Chipre Norte.

Mas por que diabo será que o resultado de ontem (7-1), apesar de catastrófico, ressoa um prazer qualquer à minha memória? Alguém me ajuda?

terça-feira, março 10, 2009

O "11 de Março"

Faz hoje 34 anos que teve lugar aquilo que a História contemporânea portuguesa acolheu com a designação de “11 de Março”.

Trata-se de um momento culminante da radicalização do processo político-militar iniciado com a Revolução de Abril e que acabou por ser provocado por uma desastrada tentativa de golpe de Estado, levada a cabo, nessa data, sob a tutela do general António de Spínola – o qual, em Setembro do ano anterior, abandonara a Presidência da República, em conflito com o Movimento das Forças Armadas, mas em torno de quem ainda se concentravam as esperanças de um fiel sector militar conservador.

A reacção a esta tentativa frustrada de golpe militar deu espaço, nesse mesmo dia, à afirmação da predominância de forças que favoreciam um salto qualitativo no processo político, numa direcção mais socializante, levando à quase imediata nacionalização de vários sectores económicos.

A Revolução portuguesa sofreu, a partir daí, uma aceleração que começou a alienar algumas áreas políticas e militares que até então a apoiavam, mas que passaram a não se rever no que consideravam ser o curso extremista do processo político português.

Meses mais tarde, o V Governo provisório, de curta duração e com uma base ideológica muito reduzida, acabou por ser a consagração institucional da radicalização iniciada em 11 de Março de 1975. Num outro registo, o “Documento dos Nove” seria o manifesto doutrinário que reflectiria a visão de sectores militares moderados, que se opunham a esta linha revolucionária.

O conflito, que cedo se verificou insanável, entre estas duas tendências não cessou, a partir de então, de se aprofundar. O movimento iniciado no “11 de Março” acabaria, política e militarmente, por força da reversão política operada pelos acontecimentos de 25 de Novembro de 1975.

Mas a marca do "11 de Março", em especial o seu efeito no tecido económico português, prolongou-se por muitos anos.

A ASAE e os táxis do Aeroporto

Embora saiba que esta não é uma posição popular, afirmo abertamente que sou um adepto da acção ASAE - a (para muitos famigerada) Agência de Segurança Alimentar e Económica.

O trabalho da ASAE repercute um tempo novo na defesa dos direitos dos consumidores portugueses e, por mim, não estou minimamente disponível para me juntar ao coro populista de quantos acham que o nosso país viveria melhor sem essa estrutura de controlo de serviços e, em especial, aos que entendem que Portugal deve manter-se liberalmente no mundo do "jeitinho" e da flexibilização de procedimentos. Às vezes, com patéticos argumentos de tradicionalismo e de românticas pulsões saudosistas.

Mas a ASAE, por mais eficaz que seja, tem ainda à sua frente um desafio que, a ser concretizado, constituiria a sua verdadeira coroa de glória: pôr na ordem o verdadeiro escândalo que constitui o serviço de táxis na zona das chegadas do Aeroporto de Lisboa.

Como diplomata, há anos que oiço, impotente, reclamações de amigos estrangeiros que se queixam do mau serviço prestado por muitos taxistas que operam nessa área, que vão desde a sua atitude pessoal deselegante (e isto é um refinado eufemismo) aos constantes abusos em matéria de preços e outras práticas que nós, portugueses, bem conhecemos. Aliás, chega a ser instrutivo falar com taxistas que não operam nessa zona - de onde eles próprios são excluídos, para evitar concorrência - para se ter uma melhor ideia do que se passa nessa espécie de "Chicago" da sua profissão.

Infelizmente, e como muitas outras pessoas, faço parte do grupo "cobarde" dos que preferem ir apanhar um táxi, no Aeroporto de Lisboa, à zona das partidas, para não ter de me confrontar com a elevada possibilidade de situações desagradáveis na zona das chegadas.

Se a ASAE conseguisse pôr cobro ao que se passa com os táxis nessa zona, estou certo que muitos lhe agradeceriam e que, com isso, a sua imagem pública melhoraria imenso.

A França e NATO

A classe política francesa está hoje dividida pela decisão, anunciada pelo presidente Sarkozy, de fazer regressar o país à estrutura militar integrada da NATO, por ocasião da próxima cimeira da organização, já em Abril.

Este é um debate complexo, porque se prende com a "excepcionalidade" que o Presidente De Gaulle criou para a França face à organização, num momento em que Paris pretendeu afirmar a sua autonomia em matéria de armamento nuclear. A partir de então, polarizada por uma certa conflitualidade com os Estados Unidos, fruto da rejeição do que considerava ser uma espécie de tutela de Washington sobre a defesa europeia, a França marcou as suas distâncias face à NATO, afastando-se da sua estrutura militar, embora não abandonando os mecanismos políticos da Aliança Atlântica.

O mundo, entretanto, mudou muito. O muro de Berlim caiu, a URSS desmoronou-se e a Guerra Fria acabou, o derrubar das torres gémeas trouxe o alerta para novas ameaças e a segurança e a defesa europeias vieram, progressivamente, impor-se como uma realidade sem a qual tem pouco sentido e eficácia o próprio projecto político integrador do continente. A França acabou por caminhar, nos últimos anos, num relação de crescente proximidade com a NATO, participando em operações da organização, dentro e fora do teatro europeu, e partilhando, na prática, as suas novas opções em matéria de afirmação operacional e doutrinária.

Com as expectativas criadas pela chegada de uma nova administração americana, e com as hipóteses disso poder criar um espaço inédito para a estruturação de uma defesa europeia autónoma mas não conflitual com a pertença à NATO, o Presidente Sarkozy decidiu pôr termo ao isolamento simbólico que a França mantinha. E, com isso, pode garantir a obtenção de postos de decisão no seio da organização, à altura da importância da contribuição francesa, bem como passar a ter uma palavra relevante no respectivo planeamento estratégico.

A decisão de fazer regressar o país à estrutura militar integrada da organização é um opção contra a qual hoje se batem, numa conjuntural conjugação táctica, alguma direita e centro políticos, bem como toda a esquerda francesa. A ironia é que, contra a opção do Presidente, acabou por erigir-se uma espécie de nova frente gaullista, sendo que vale a pena notar que o Presidente francês também se reclama historicamente da herança do General. Interpretando-a, contudo, à sua maneira.

Numa era das especulações, a questão poderá ser: que pensaria hoje o General De Gaulle de tudo isto? Como reagiria perante as novas circunstâncias que se impõem ao seu país?

segunda-feira, março 09, 2009

"A Bola"

Acaba de ser anunciado que "A Bola" passa a editar-se em Angola, na sua "velha" periodicidade das segundas, quintas e sábados.

Muitos talvez não tenham consciência do importante papel desempenhado por "A Bola", não apenas na ligação entre Portugal e os portugueses que vivem no exterior, mas igualmente na manutenção de uma relação de afeição pelos principais clubes portugueses, em muitos países africanos de língua portuguesa. Talvez "A Bola" tenha feito mais pela preservação de um vínculo dessas pessoas a Portugal do que muitos actos de política externa...

E, em França, quem não se recorda dos tempos em que "A Bola" estava no centro do apoio a Joaquim Agostinho, em reportagens emocionadas de Carlos Miranda e de Bruno Santos?

O dedo esticado

Admito que possa ser uma reacção pessoal algo epidérmica, mas confesso que me irrita sobremaneira aquele gesto dos políticos que entram num palco ou num acto público e apontam, por sistema, para um ou outro figurante desconhecido na assistência, como que reconhecendo um amigo. Imagino que o visado deva regressar a casa impante, por ter sido singularizado. E algumas pessoas ao lado também, porque pensaram ser para elas a atenção.

O gesto costuma ser mais comum do lado americano do Atlântico, qualquer que seja a sua orientação política, sendo muito vulgar em campanhas presidenciais. Do lado europeu, parece, por ora, haver um maior contenção. Valha-nos isso!

domingo, março 08, 2009

Gérard Castello-Lopes

Uma mostra da obra fotográfica de Gérard Castello-Lopes está presente em Champniers, no festival Mars en Braconne.

Algumas dezenas das suas fotografias, muitas no preto-e-branco do salazarismo, outras mais recentes, constituem um magnífico e quase ímpar retrato sociológico de um certo Portugal.

Gérard Castello-Lopes - filho de mãe francesa, casado com uma francesa e vivendo muito entre os dois países - consegue fixar na sua obra um olhar muito português mas que é, simultaneamente, atravessado por uma leitura fortemente culta e distanciada da nossa realidade nacional.

Confesso que tive um grande prazer em ver a Embaixada associada a esta exposição.

TGV

Sem querer entrar na polémica luso-portuguesa sobre o comboio de alta velocidade, a França já me ensinou que viajar de avião dentro do país é, quase sempre, uma opção a evitar e que, na relação qualidade / preço / conforto, as viagens por TGV são a solução.

sábado, março 07, 2009

Mitterand

Jarnac é uma terra pequena, numa zona plácida e de grandes planuras, no centro da produção do melhor cognac, sem muito que a distinga de tantas outras vilórias de França. Apenas o facto de aí ter nascido e estar sepultado François Mitterand a terá tornado mais conhecida.

Curiosidade: no museu que aí lhe é dedicado, sem grandes nostalgias e com uma forte presença de notas sobre o considerável impulso dado pelo antigo Presidente à arquitectura, figuram alguns livros dos quais não sai muito bem a memória histórica da personagem. Uma lição de coragem, pouco habitual.

Mitterrand é uma figura que hoje divide muito os franceses. Sem lhe negarem a excepcional qualidade intelectual, a dedicação ao país e o arrojo de algumas acções como político, as dúvidas que se foram acumulando sobre vários aspectos da sua vida, muito reforçadas nos últimos anos desta, tornaram-no numa personalidade algo controversa. A seu tempo se verá como a História acabará por decantar tudo isto.

Nós, portugueses, devemos-lhe uma atitude positiva face à nossa adesão à União Europeia e um sentimento de simpatia por Portugal, bem expresso nalgumas belas páginas que nos dedicou. Talvez graças à influência de Mário Soares, Mitterand cedo acreditou no destino europeu de Portugal.

Portugal em Charente

Chama-se Caroline Fombaron e é uma francesa responsável autárquica pela cultura na zona de Angoulême. Deu-nos uma lição de simpatia para com Portugal.

O seu festival Mars en Braconne tem a sabedoria de conseguir combinar, com elegância, dimensões contemporâneas da cultura portuguesa com valores tradicionais que são caros à nossa Comunidade.

Hoje, ouviram-se Eça, Pessoa, Torga e Lobo Antunes. Até dia 28, haverá música (desde a barroca ao fado e ao hip-hop), videos, fotografia, curtas e longas metragens (de Oliveira a Maria de Medeiros e Miguel Gomes), teatro, mais leituras dramáticas de textos e muito mais.

Um festival que tenho pena de não conseguir organizar... em Paris!

quinta-feira, março 05, 2009

Paulo Coelho

É uma figura frágil, franzina, que passa quase despercebida. Todo de negro. Cruzámo-nos numa passadeira, na avenue Victor Hugo, cerca da meia-noite.

Paulo Coelho é um dos mais celebrados autores do mundo. Vende como ninguém. Todo o seu novo livro é traduzido e editado em imensas línguas, em quase todos os países do planeta. Li três das suas obras e, seguramente por defeito meu (e não estou a ser irónico, acreditem), não consegui entender a razão do êxito. Mas algo de importante deve transmitir para provocar a adesão dos milhões de fiéis leitores.

A França e a Europa

O antigo Secretário de Estado dos Assunto Europeus francês, Jean-Pierre Jouyet, acaba de publicar uma interessante memória sobre a Presidência francesa da União Europeia em 2008. Para quem foi do "métier", o livro é extremamente interessante e instrutivo sobre a forma como a França leu o seu semestre de liderança da União. Há que reconhecer que a França fez então um magnífico exercício, que muito ajudou a reforçar a imagem da União, num tempo de crise no Cáucaso e de instabilidade económico-financeira no mundo.

Ao ler o livro de Jouyet, elaborado no género bem francês de entrevista orientada, confesso que senti alguma pena por ter resistido a colocar no papel um relato da nossa Presidência de 2000. De facto, todos ganhamos com este tipo de testemunhos, que nos ajudam a fixar a imagem de certas etapas da política externa e a deixar elementos para estudo futuro.

La Table d'Adrien

Adrien é o cognome francês do sr. Adriano, um português bragançano que, há vários anos, se afeiçoou a Paris e que, com a sua mulher D. Judite, depois de outras experiências, aportou, há meses, ali perto da Opéra, não muito longe do famoso Harry's Bar.

A especialidade da casa são os "foie gras", magníficos, diferentes e "colesterol friendly" (isto é, adorados pelo mau colesterol...). O cliente não deve perder excessivo tempo a olhar o "décor", bem simples, embora pontuado por caixas de belas cepas francesas.

Para quem puder lá passar, aqui vai o endereço: 9, rue Volnay. Mas reserve, que a sala é pequena.

quarta-feira, março 04, 2009

Clain d'Estaing

Hoje, ao passar em frente da casa do antigo presidente francês, Giscard d'Estaing, muito próxima da Embaixada de Portugal, recordei-me do fantástico pseudónimo com que Mário Soares, durante algum tempo, desafiou a estupidez dos coronéis da censura à imprensa em Portugal, nos artigos que escrevia para o "República": "Clain d'Estaing". Simplesmente brilhante!

Mário Soares vivia então exilado em Paris, por imposição do Governo de Marcello Caetano. Só regressou a Portugal após o 25 de Abril de 1974, pouco tempo antes de ser nomeado o primeiro Ministro dos Negócios Estrangeiros do novo regime democrático.

Pintor português em Paris

A galeria é pequena - Galerie Octobre (24, rue René Boulanger) -, perto da Place de la République, o pintor é madeirense, residente em Lisboa - Mathieu Camacho.

Um trabalho interessante, onde alguns vêem influência de Léger, outros das passadeiras de flores da terra natal do pintor. Vale a pena ver, como eu fiz, para ajuizar.

terça-feira, março 03, 2009

Lugares da diplomacia

Ao entrar hoje em Matignon, recordei-me que, há dias, ao sair do Eliseu, me esquecera de perguntar sobre um outro assunto que também não suscitara numa conversa no Quai.

Mas que é isto?, perguntará o leitor desprevenido. Esta é a linguagem críptica feita de locais com que os diplomatas se entretêm, já quase sem se darem conta que muito do restante mundo pode não conseguir segui-los.

Claro que, para alguns, é sabido que Matignon é o palácio onde fica o gabinete do Primeiro-Ministro francês, para muitos mais é óbvio que o Eliseu é a Presidência da República e, finalmente, outros suspeitarão que o Quai referido não é o Quai des Orfèvres, tornado famoso pelo inspector Maigret, mas sim o Quai d'Orsay, nome pelo qual é conhecido o Ministério francês dos Negócios Estrangeiros.

Lembro-me que, quando entrei para a carreira diplomática, ao ler telegramas da nossa embaixada em Tóquio, comecei a ficar intrigado com um interlocutor regular do nosso embaixador, fonte credível de interessantes informações. Assim, lia frequentemente nas comunicação do Japão coisas como "apurei junto de Gaimusho", "a opinião de Gaimusho é", etc. Com a patetice de um caloiro que hesita em perguntar o que teme que deva ser óbvio, terei andado umas semanas até descobrir quem era o tal Gaimusho - nome pelo qual é conhecido o ministério dos Estrangeiros japonês.

De certo modo, há a tendência de pensar que uma diplomacia que é conhecida pelo nome da sede da sua chancelaria assume, aos olhos das outras carreiras externas, uma dignificação especial, pelo peso histórico que o nome representa. O que não significa menor prestígio para aquelas que são conhecidas por siglas (AA para a Alemanha, FO para o Reino Unido, MID para a Rússia, etc.).

A verdadeira consciência disso está reflectida no caso do Brasil: ao falar-se do Itamaraty, toda a gente sabe tratar-se do Ministério das Relações Exteriores brasileiro, em Brasília. Porém, alguns não saberão que, na realidade, o original Palácio do Itamaraty se situa no Rio de Janeiro e foi, de facto, a sede da diplomacia brasileira antes de se mudar para Brasília, levando consigo o nome para o novo e belíssimo edifício onde hoje se situa.

Também nós, portugueses, temos a tentação de assumir que os diplomatas estrangeiros em Lisboa devem dizer, nas suas comunicações, "apurei hoje nas Necessidades" e frases do género. A nossa esperança é que não traduzam o nome do palácio...

Regras

Alguma coisa que ainda julgo saber dos temas europeus faz-me pensar que não está hoje criada, no âmbito da União Europeia, uma verdadeira consciência sobre os riscos que o projecto comum tem vindo a correr nestas últimas semanas.

A preservação da União Europeia, e em especial do seu Mercado Interno, pressupõe que todos os seus Estados membros cumpram, com idêntico rigor, as regras acordadas em comum. A actual crise económico-financeira parece estar a ser um alibi de oportunidade para alguns poderem tentar ser beneficiários da quebra desse corpo de regras, o qual é uma das chaves do sucesso do processo comunitário, e que não pode manter-se sem elas. E isto, até historicamente, é muito mais grave do que pode supor-se.

Para vigiar e alertar publicamente para o infringir dessas regras, bem como para propor sancionamento do seu desrespeito, existe a Comissão Europeia, a quem compete o papel de guardiã do interesse comum. Mas será que ela está mesmo a exercer esse papel? E, não estando, por que será?

segunda-feira, março 02, 2009

Estrelar apetites

A chegada anual ao mercado do "Guide Michelin" é sempre um momento ansiado pelos gastrónomos franceses, para quem as edições que actualmente analizam os restaurantes de outros países são um sucedâneo menor e periférico.

O facto da edição desde ano ser a nº 100 terá criado uma expectativa ainda maior, pelo que consta que a corrida às livrarias, para ver quem entrou ou saiu das “estrelas”, foi grande.

Em tempos de crise, penso que talvez se possa dizer que quase são tão relevantes os 548 restaurantes "estrelados" (de um a três estrelas – sendo estes últimos apenas 26) como os 527 marcados como "Bib Gourmand", isto é, casas onde se pratica a melhor relação qualidade/preço.

Por mim, já decidi: aos primeiros, vou com muito gosto, mas só como convidado.

A tragédia da Guiné

O assassinato de Nino Vieira, presidente da Guiné-Bissau, hoje ocorrido, antecedido da morte violenta do principal chefe militar do país, configura mais um episódio trágico no destino daquela que foi a primeira ex-colónia portuguesa a declarar a sua independência, em 24 de Setembro de 1973, ainda à revelia de qualquer acordo com o poder colonial.

Este acaba por ser também um tempo triste para a memória de Amilcar Cabral (na imagem), o líder de recorte humanista que sonhou com a autodeterminação dos povos da Guiné e de Cabo Verde, também ele uma vítima da violência sectária.

A sucessão de tensões no sistema político guineense, ao longo das últimas décadas, com mudanças de líderes e a emergência de motins e golpes militares, revela bem as dificuldades da sua sedimentação institucional enquanto Estado.

A Guiné-Bissau é hoje um país que persiste marcado, política e socialmente, pelas suas diferenças étnicas e por outros inultrapassados factores de divisão interna, além de polarizado por algumas questões de vizinhança que afectam a sua estabilidade, sem que a sua estrutura económica haja revelado, até ao momento, a solidez necessária para garantir um bem-estar mínimo à sua população. Além disso, o facto de, nos últimos anos, ser apontado como uma placa giratória do tráfico internacional de drogas complica mais todo este cenário.

Portugal e os restantes países da CPLP, agora como no passado, dão mostras de estarem disponíveis para ajudar a Guiné-Bissau a ultrapassar mais este momento complexo. Mas, por muito que o mundo possa fazer para apoiar o país, nada nem ninguém se poderá substituir à vontade e capacidade dos guineenses de saberem definir os seus rumos de futuro.

Maduro e a democracia

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