segunda-feira, março 25, 2013

"On parle, on parle..."

Carlos Eurico da Costa, poeta surrealista e diretor da Ciesa-NCK, contou-me um dia a história de um elemento da empresa que foi a uma reunião a Paris e, perante uma discussão que entendia pouco produtiva e muito palavrosa, deixou uma frase que ficou no anedotário das agências portuguesas de publicidade: "On parle, on parle et après chapeau!"

Lembrei-me dessa pérola de cosmopolitismo linguístico ao assistir, há dias, ao discurso de Obama em Jerusalém, comparando-o com a mensagem de esperança que, em 2009, ele próprio tinha deixado, na sua célebre intervenção no Cairo. Passaram quatro anos e é preciso dizer que o processo negocial no Médio Oriente regrediu, que a desconfiança entre os dois lados se agravou e que Washington se revelou totalmente incapaz de utilizar o "leverage" que parecia ser o seu naquele contexto. E que tudo indica que, diga Obama o que disser, as coisas continuarão na mesma. Ou pior.

Ontem, comentei isto com um amigo americano com quem jantei em Lisboa. Ele mantém a esperança de que Obama (com John Kerry) vai conseguir, até ao final do segundo mandato, algum avanço significativo no processo de paz do Médio Oriente (se é que as coisas ainda se podem designar assim). Eu, devo confessar, sou muito mais cético. Acho que Israel, na cegueira estratégica a que desde há muito hipoteca a sua sobrevivência, teve artes, uma vez mais, de tornar refém uma administração americana, através da hábil instrumentalização do lóbi judaico no país. E isto não é uma boa notícia, não apenas para a promoção dos direitos dos palestinianos, mas principalmente para a atenuação das tensões maiores que, a prazo, podem pôr em risco a existência em paz do Estado de Israel. Mas espero sinceramente estar enganado.

9 comentários:

São disse...

Partilho esse seu receio.

E das duas vezes que vistei Auschwitz.Birkenau o horror que senti foi agravado pela maneira inqualificável como Isarel, com o apoio incondicional dos EUA, (des)trata a questão palestiniana e, també, pela apropriação que os judeus fazem do sofrimento . Sem que nunca refiram as demais vítimas do nazismo!!

Boa semana

patricio branco disse...

mas isto é um conflito biblico, começou há 3 mil anos, durará até ao apocalipse?

Defreitas disse...

Obama traiu a esperança não só dos Palestinos e dos Israelitas desejosos de paz, como do mundo inteiro, que estima que o processo que poderia levar à paz no Médio Oriente depende muito da pressão americana sobre Israel.
Ao contrário, " A trip for nothing", tal é a impressão que deixou esta visita mal agendada.
E os Israelitas lançam foguetes de regozijo: Os cépticos do processo de paz anti-Obama não podem deixar de jubilar. Barry Rubin, leader americano conservador pro-Israël escreve na sua pagina Facebook
"Creio que acabamos de obter uma vitoria imensa. Obama admitiu a sua derrota na tentativa de nos intimidar, de manipular ou de fazer pressão sobre Israel".
Netanyahou, o grande vencedor! Recompensado por ter desafiado um presidente americano. E a lição que ele deu a Obama é simples : "Não sou obrigado de fazer o que quer que seja para resolver o problema palestino. Posso continuar a desenvolver as colônias, concentrar-me exclusivamente sobre o Irão e insultar o presidente americano, que continuará a visitar-me e a agradecer-me, fazendo um pouco de turismo durante alguns dias! Mais nada! E o fato de ter esperado a vitoria de Mitt Romney contra Obama, passou sem reação de Obama!
No fundo, Obama quis talvez enviar uma mensagem a Téhéran : Não é porque Bibi me é insuportável, que não o vou apoiar para vos impedir de obter a arma nuclear.
Parece incrível como uma clientela judaica poderosa nos Estados Unidos, pode fazer vergar a espinha ao presidente do pais mais poderoso do planeta!
E os Palestinos podem , justamente, continuar a gritar a Obama ; Prometeu-nos a esperança e a dignidade, e em vez disso deu-nos as colônias e o apartheid! E têm razao!
J. de Freitas

Azinheira disse...

Caro Embaixador, ao seu comentário tiro o chapeau! Infelizmente é mesmo como diz, quem conviveu de perto com o tema e as gentes, sabe bem que é assim.

Anónimo disse...

Numa frase muito curta podemos dizer blá blá blá... e com o blá blá continua a mortífiera guerra no médio oriente que nunca mais pára e, à força dos empurrões, é a Palestina (país ao feminino) quem mais sofre.
José Barros

Anónimo disse...

Aconselho o "The Great War for Civilisation - The Conquest of the Middle East" de Robert Fisk.

Nunca mais olhei para os israelitas da mesma forma.

Até por isso me doeu a péssima exibição da Seleção...

Helena Sacadura Cabral disse...

Disse ontem, num jantar, algo semelhante ao seu post e ao comentário de Defreitas.
Olharam-me com imenso ar de censura. Mas eu não me preocupei...
Agradeço, hoje, a ambos terem-me mostrado que não sou nem ignorante nem idiota.
Obrigada!

Anónimo disse...

devia-se fazer um jogo de futebol
entre fundamentalistas.

de um lado uns barbudos sunitas daqueles que andam agora a passar ferias na siria e de outro uns barbudos israelitas daqueles que poem as mulheres na parte de tras dos autocarros.

a equipa xia fica a espera no roda bota fora.


podem levar facas ou outros instrumentos cortantes.

a equipa que ganhasse as outras duas tinha direito ao terreno do campo de futebol.

mas so podiam jogador barbudos fundamentalistas qualificados pelos guias supremos das respectivas equipas.


e nesse caso sim seja o que deus quiser...


Defreitas disse...

Começou há 3000 anos, escreve o Sr. Patricio Branco! C'est beaucoup. De qualquer maneira as nações que são construídas saqueando, espoliando e assassinando as populações de origem têm dois problemas com a historia:
1°- O seu horror é difícil de justificar.
2°- A sua rapidez mina a validade dos argumentos segundo os quais esta terra é "nossa" , isto é, dos que se apropriam esta terra.

Foi o "Mandato britânico da Palestina", que originou o grande desastre. E não vai há 3 000 anos!
Na realidade o "Mandato britânico" da Palestina nunca existiu; isso foi e permanece uma pura construção colonial euro-ocidental, uma abstração com conseqüências, elas, tão concretas que desastrosas.
O povo palestiniano nunca aceitou de ser ocupado pelos colonos britânicos, nunca aceitou de ver a sua terra ancestral dividida para ser dada a outros europeus e nunca pediu para ser "civilizado" por um governo imperial ignorante completamente da sua língua, da sua cultura e da sua historia. Pode dizer-se a mesma coisa do "Mandato francês" na Síria e no Líbano e do "Mandato britânico do Iraque.
O termo "Mandato britânico teve a sua utilidade , é verdade. Permitiu aos historiadores coloniais e aos outros partidários da colonização de crer que a Palestina era, no final, destinada à partilha, o que a "legalizou" e mesmo santificou. Francamente, quando se sabe que foi a SDN (Sociedade das Nações) que deu mandato à Inglaterra em 1922 e portanto à nação maior da terra, a mais esclarecida e a mais progressista, esta foi obrigada de respeitar a sua missão - esta é pelo menos a argumentação que serviu de justificação.

Que diabo, os Ingleses obedeceram à SDN ! Boa gente ! E o povo autochtone da Palestina? Quem se preocupou dele ? Lord Balfour respondeu a esta pergunta em 1917 :" As aspirações dos Palestinianos, os seus direitos e mesmo a sua existência não tinham grande importância. Acrescentando: "O sionismo, que ele tenha razão ou não, que ele seja mau ou bom, está enraizado numa longa tradição, nas necessidades atuais e nas esperanças do futuro duma importância infinitamente superior aos desejos dos 700.000 Árabes que habitam hoje esta terra antiga e aos prejuízos que suportarão"! Estava tudo dito ! Merci Lord Balfour!

Assim, importava pouco que os Palestinianos sejam ainda majoritários em 1948, apesar das dezenas de anos de apoio britânico à imigração dos Judeus da Europa e da Rússia. Importava pouco que os Palestinianos possuíssem ainda a maior parte da Palestina . O que importava era a visão colonial em geral e, na ideologia sionista, a tradição ancestral mitológica.

Não, não foi há 3 000 anos que o Povo da Palestina foi espoliado. A historia é mais recente. Fazem-lhe pagar os crimes cometidos por uma nação de vasta cultura européia, como se os Palestinianos tivessem sido os autores da SHOA.

J. de Freitas

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