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sexta-feira, outubro 07, 2011

Casa da Música

Convidei hoje 20 jornalistas franceses da área musical para almoçar na Embaixada com responsáveis da Casa da Música, do Porto, com vista a conhecerem melhor aquela instituição e, em particular, o projeto de celebração da música francesa que, durante o ano de 2012, aí vai ser desenvolvido.

Num excelente francês, que pode ter surpreendido os convidados e que testemunha a saudável permanência da relação cultural intensa que Portugal mantém com a França, Nuno Azevedo e António Jorge Pacheco deram conta, a um grupo muito interessado de interlocutores, das iniciativas que vão ser levadas a cabo naquela que o "Le Figaro" qualifica como "a fascinante Casa da Música, (...) uma das salas mais ativas da Europa".

Graças à produção da Casa da Música, vamos, hoje à noite, na Cité de la Musique, aqui em Paris, ter oportunidade, de apreciar uma versão sintética do "Ring" de Wagner.

domingo, junho 26, 2011

Ainda o Porto

"Infanção" foi a categoria atribuída ao embaixador de Portugal em França pela venerável Confraria do Vinho do Porto que, neste sábado, o entronizou, com direito a capa e tomboladeira, numa cerimónia de grande aparato, que teve lugar no palácio da Bolsa, seguida de cortejo, com cavaleiros e banda, que desfilou para um ato de grande gala da Alfândega do Porto. Aqui fica a nota, "for the record".

sábado, junho 25, 2011

S. João

Tenho pena de não ter comigo o belo texto que François Mitterrand dedicou ao S. João do Porto, no "L'abeille et l'architecte"*. O antigo presidente francês, que visitava Portugal a convite de Mário Soares, terá percebido, nesse mergulho na noturna multidão tripeira, muito do nosso caráter como povo.

Há anos que não vinha a um S. João. E não me arrependi de ter voltado a experimentar esta noite, que é única no mundo. 

Conheço portugueses que vivem obcecados em fazer visitas turísticas a longínquos destinos da moda, como se disso dependesse o seu currículo cosmopolita, e que confessam nunca ter estado num S. João no Porto. Coitados...

* Um leitor corrigiu-me: eu pensava que o livro era "La paille et le grain"

domingo, maio 29, 2011

Grande Porto



Lembrei-me muito do meu tio Óscar, neste fim de semana. Durante a minha infância, o Porto, para mim, identificava-se muito com ele.

Oficial do Exército na reserva, ia, aos domingos, almoçar à messe, na Batalha e, durante a semana, parava as tardes num grupo de amigos, no Rialto, onde aguardava a chegada do "Diário do Norte". Sendo ele portuense, não me recordo se era portista, sequer se se interessava pelo futebol.  Coleccionava "O Tripeiro", que tinha encadernado na estante, e foi pela mão dele que conheci a "Vida Mundial", quando a publicação consistia  apenas numa recolha de artigos traduzidos da imprensa estrangeira e  ainda era editada no Montijo.

Vivia na Ramada Alta, num andar com um cheiro confortável e indefinível, que nunca esqueci, com uma varanda envidraçada, onde se tomava chá e se via a estátua da rotunda da Boavista. Em noites em que as luzes convertiam o Porto num distante sonho cosmopolita para o jovem que, como eu, visitava a cidade, com o deslumbramento dos que viviam para lá do Marão, daquela varanda via-se passar, ao fundo, um comboio. O tio Óscar, que, com carinho, me mostrou e fez para sempre gostar da sua cidade, nunca teve ocasião de cumprir a promessa que me havia feito de me levar um dia nessa linha, até à Póvoa.

Neste sábado, ao sair do aeroporto do Porto, comprei um "Andante"*, o nome irónico dado ao bilhete do Metro de superfície, que também comporta a tal linha férrea que eu via da casa do meu tio Óscar. É uma viagem calma, por vezes com a triste paisagem de traseiras suburbanas que os comboios proporcionam, outras com vista para aquelas moradias de portas altas com uma imensa numeração, bem típicas de certas ruas do Porto. A certo passo, o Metro emerge de um túnel e ouve-se a voz oficiosa: "Verdes". Aparece uma estação a justificar o nome, no meio de vegetação, de que eu nunca ouvira falar. Recordando o tio Óscar, lá fui, por aí adiante, até ao meu destino, a Trindade.

Nessa noite, ao dizer a um amigo, que encontrei num jantar na Alfândega, que estava instalado pelas bandas da Trindade, num novo hotel, ele retorquiu-me, lembrando quando por aí andávamos, há muitos anos: "Vais dormir perto da Alferes Malheiro? Ó diabo! Ainda acabas a noite na "Candeia"..." Esclareci que, a "Candeia", além de ter já fechado há uns tempos, há meio século que não fazia parte dos meus roteiros do Porto. "Então podes ir a um pomar, muito próximo do teu hotel". Porque conheço muito bem a zona, estranhei que por ali houvesse algum pomar. Ele precisou: "É na Gonçalo Cristóvão, tem excelente fruta". Não percebi nada, mas creio que a graça tem alguma coisa a ver com futebol...

Em tempo: correção feita. O "Andante" é o nome do bilhete e não do metro, como eu pensava. Desatenções...

domingo, novembro 28, 2010

Porto

As Éditions Autrement há muito que nos habituaram a olhares diferentes sobre realidades comuns, que julgamos conhecer bem, mas sobre as quais, com surpresa, acabamos por vir a aprender coisas novas e perspetivas inesperadas.

Há semanas, tinham-me falado deste "Porto, poètes et bâtisseurs", um trabalho muito cuidado de Édouard Pons, com belas fotografias de Antonin Pons Braley. O autor é um antigo diretor da Agence France-Presse e já havia sido responsável pela obra "Lisbonne, terre de rencontres".

Este livro sobre o Porto, integrado numa coleção sobre cidades do mundo, é uma viagem feita através da voz de várias e, algumas inesperadas, figuras que nos ajudam - mesmo a nós, portugueses - a entender melhor o que há de particular numa cidade que, talvez melhor que qualquer outra em Portugal, destila um orgulho na sua intimidade, ao mesmo tempo aristocrática e regional, com tudo o que isso tem, simultaneamente, de notável e limitativo.

O Porto contemporâneo é uma realidade complexa, que - desculpem lá! - combina frequentemente algumas frustrações de afirmação nacional com dimensões de uma riqueza única no espaço português. Às vezes, o Porto aparece provinciano, no simplismo de um discurso através do qual auto-limita as suas fronteiras. Outras vezes, se se for mais ao seu fundo, a "capital do norte" dá-nos lições de modernidade e de inesperado cosmopolitismo. Talvez por isso, há imensa gente em Portugal que acha o Porto uma cidade e uma sociedade "estranha". De certo modo, não deixam de ter razão, mas eu entendo que isso é um involuntário elogio.

É este retrato múltiplo que este livro surpreendente nos traz. Por ele passam testemunhos de renomadas figuras da cultura, misturadas com pessoas simples, mas representativas, do dia-a-dia portuese. Não está lá tudo, mas está lá muito e, melhor!, está o suficiente para o que é importante: seduzir um leitor francês a interessar-se por essa realidade metropolitana ímpar que, em Portugal, é o Porto. Pena é que muitos portugueses teimem em não conhecer o Porto.

domingo, novembro 07, 2010

Porto-Benfica

Que pensa um sportinguista ao ver o Porto ganhar 5-0 ao Benfica, reforçando ainda mais a sua liderança?

Só às paredes confesso.

sábado, outubro 16, 2010

Artur Santos Silva

Há dias, numa conversa em Paris, uma amiga com fortes ligações ao nosso país disse-me, de forma apreciativa, que este blogue a tem ajudado a conhecer melhor Portugal e, mesmo, a "descobrir"  alguns portugueses. Fiquei satisfeito, porque esse é também um dos objetivos do que por aqui vou deixando.

Hoje, ao abrir o "Público", num avião da TAP, deparei com uma longa entrevista de Artur Santos Silva, presidente do BPI e da comissão para as comemorações do centenário da República. E lembrei-me que este é um nome que as pessoas ganhariam  muito em conhecer melhor. Para quem possa fazê-lo, recomendo a leitura daquele texto. As respostas são um manancial de bom-senso e de sentido cívico, sem deixarem, simultaneamente, de refletir um espírito lúcido e crítico. Dei por mim a pensar que Portugal se permite, com grande frequência, não utilizar, em funções determinantes para a condução ou orientação do país, algumas figuras cuja estatura seriam uma mais-valia para o serviço público. 

Artur Santos Silva passou apenas brevemente pela política, optou pelo usufruto da independência, prestigiou-se profissionalmente e criou uma instituição bancária de referência. Ao longo dos anos que levo da observação da vida do país, ele continua a ser uma das vozes que mais me têm marcado pela sua retidão e exemplaridade, pelas úteis lições de vida que nos transmite.

Oriundo de uma família liberal do Porto, é um homem formado num tempo e num ambiente em que a cultura e o respeito atravessavam a formação da juventude. Dessa rica vivência soube decantar uma forma de estar na vida da qual emana uma imensa serenidade. O meu pai, que daqui a dias teria a idade da nossa República, educou-me a respeitar figuras que qualificava como "pessoas de bem". Artur Santos Silva é uma delas.

Escrevo este post com muito à-vontade. Não sou íntimo de Artur Santos Silva. Vivemos em mundos diferentes, não temos laços políticos ou profissionais, conheço-o apenas por contactos esporádicos, embora feitos de cordialidade e, estou certo, de mútua estima. Devo confessar, porém, que criei uma sincera admiração por esta figura ética que - e aqui regresso ao início deste texto - o nosso país não terá aproveitado como devia. 

Digo-o a propósito da entrevista que hoje li e, claro, de muitas outras coisas que os tempos correntes me suscitam. Mas por aqui me fico.

domingo, setembro 26, 2010

Vinho do Porto

"É lá da quinta!". A quinta não era dele, mas o nosso jovem diplomata, convencido que isso lhe conferia o "coté" finaço de proprietário rural no Douro, utilizava a quinta da tia como origem do vinho do Porto que oferecia, com orgulho, aos seus convidados, em garrafas sem rótulo, que entendia darem maior genuinidade ao afirmado néctar.

Naquela noite, tinha o seu embaixador para jantar. Apurado "gourmet", o velho diplomata tinha fama de ser um "connoisseur"* de vinhos. Os  Portos seriam, aliás, a sua grande especialidade, pertencendo até à respetiva confraria. 

O jovem anfitrião não resistiu enquanto não passou um cálice do Porto "lá da quinta" ao Embaixador, não se coibindo de adiantar: "O senhor embaixador vai deliciar-se com este Porto!". Fez-se na sala um silêncio ansioso, enquanto o embaixador degustava um trago do Porto "lá da quinta". O velho diplomata rolou com calma o líquido na boca e, para satisfação maior dos donos da casa e instrução definitiva dos restantes convidados, disse: "estupendo!".

Só o empregado português, contratado à hora pelo diplomata, que o embaixador encontrava por todas as receções naquela capital, terá notado que, segundos depois, com a discrição coreográfica que a carreira ensina a quem a sabe aprender, o embaixador pousou na sua bandeja o resto do cálice daquela zurrapa "lá da quinta", que tentava passar por um Porto, e optou por um seguro copo de água.

Em tempo: Um amigo referiu o meu "lapso" de ter escrito "connoisseur" em lugar de "connaisseur". Não foi lapso. De facto, em francês diz-se "connaisseur" mas, devo confessar, habituei-me, de há muito, a utilizar a consagrada corruptela anglosaxónica de "connoisseur". Mas, de futuro, e enquanto por aqui andar, reconheço que tem sentido vergar-me às origens etimológicas do vocábulo. Obrigado pela nota.

domingo, agosto 08, 2010

Humberto Delgado (1)

Encontrei, há dias, um exemplar do manifesto da candidatura presidencial do general Humberto Delgado, em 1958, entre as folhas de um livro antigo do meu pai.

A fotografia que encima este post figura na primeira página dessa "Proclamação". Essa era também a imagem que, à época, aparecia nos cartazes colados em algumas as paredes de Vila Real. Eu tinha 10 anos, mas recordo, como se hoje fosse, o momento em que o meu pai - "republicano" dos sete costados, o que então queria dizer "democrata" - me levou a ver Delgado depor uma coroa de flores no monumento a Carvalho Araújo, na avenida com o mesmo nome, em Vila Real. Era 22 de Maio de 1958. À época, eu estava longe de perceber bem a importância desse tempo, mas era-me sensível o ambiente de tensão que então se vivia.

A candidatura de Delgado terá sido, porventura, a maior ameaça de contestação interna que o Estado Novo sofreu em todo o seu percurso. Oriundo do regime, para cujo sucesso contribuiu com entusiasmo, e que serviu com dedicação durante muitos anos, o general teve uma passagem de alguns anos pelos Estados Unidos que terá estimulado a sua propensão contestatária e o fez aderir a um ideário liberal. Crescente crítico de Salazar, essa sua atitude não passou desapercebida à hierarquia militar, que não deu alento à carreira profissional que ambicionava, acabando por assim espoletar a sua dissidência. Uma ala moderada da oposição ao salazarismo, conhecedora dessa sua evolução, teve então a iniciativa de lhe propor ser candidato "independente" à Presidência da República, vindo a conseguir arrastar em seu favor outras correntes mais radicais, em especial o PCP, que originalmente qualificava Delgado como o "general Coca-Cola".

Delgado veio a protagonizar uma campanha cujo entusiasmo popular não encontra paralelo na história política portuguesa, como a imagem seguinte, da receção que lhe foi feita no Porto, melhor documenta.
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A personalização do combate a Salazar, que encarnou de forma enérgica e destemida, trouxe-lhe uma imensa e inesperada popularidade, em quase todo o país. Ao afirmar, com frontalidade, que demitiria o ditador, se acaso viesse a ser eleito, Delgado rompeu com o endeusamento histórico que protegia Salazar e abriu um tempo novo na vida política portuguesa.

O candidato do regime era o inenarrável contra-almirante Américo Tomás, um obscuro ex-ministro que Salazar selecionara para evitar a recandidatura do general Craveiro Lopes, o qual dera sinais de algumas reticências à liderança política do homem de Santa Comba.

O período eleitoral foi muito duro, com Delgado e os seus adeptos a serem objeto de forte coação e intimidação, com perseguições, prisões e mortes, na sequência de muito violentos atos de repressão. O comportamento do candidato esteve sempre à altura da coragem que se lhe creditava e que lhe veio a dar o cognome histórico de "general sem medo".

Sabe-se hoje que, dentro do regime, se passaram então horas de grande angústia e que essa tensão contribuiu para agravar confrontações entre personalidades do governo, que não deixaram de marcar os anos seguintes. No plano institucional, o susto foi ao ponto do regime decidir mudar a Constituição e acabar, pouco tempo depois, com a eleição por sufrágio direto, passando a escolha do Presidente da República a ser feita por um "colégio eleitoral" de fiéis da "situação".

Com os cadernos eleitorais desatualizados, com uma generalizada fraude no escrutínio, Humberto Delgado viria, mesmo assim, a obter cerca de 1/4 dos sufrágios expressos - isto durante um regime que, em anteriores e posteriores eleições legislativas, nunca permitira à oposição eleger um único deputado.

Delgado seria depois afastado das Forças Armadas. Foi forçado a exilar-se no Brasil e, depois, na Argélia. Viria a ser assassinado, em Fevereiro de 1965, por uma brigada da PIDE, em Espanha, perto de Olivença.

sexta-feira, julho 09, 2010

Rádio Clube

Um dos grandes testes ao envelhecimento parece ser a capacidade de resistir à nostalgia. Ontem falhei no teste, ao ler que o Rádio Clube Português vai fechar.

O Rádio Clube teve um papel importante na vida de quantos são dos "dias da rádio".  No meu caso, das noites. Na juventude, em Vila Real, o Rádio Clube, a par de algumas rádios estrangeiras (Radio Caroline, Radio London, Radio Andorra) e da "23ª hora" da Renascença, era uma companhia noturna regular, com os programas da madrugada, em especial o "Meia Noite" e, mais tarde, o efémero "Europa", de Vitor Espadinha, a trazerem alguma da música que fez a nossa geração. (Na província, sem FM, apenas com Onda Média, não chegávamos ao lisboeta "Em Órbita")

Em meados dos anos 60, com a ousadia dos meus 18 anos, fui-me apresentar nos seus estúdios do Porto, na rua de Ceuta, onde pedi "emprego", ao tempo em que fingia estudar Engenharia. O Alfredo Alvela abriu-me então as portas do seu "Clube da Juventude," onde realizei, durante alguns meses, o meu "Tempo de Teatro", com textos do João Guedes e um "gingle" com efeito de eco, feito no vão do elevador do prédio, numa ideia louca, creio que do Jaime Valverde. Às vezes, pela noite dentro, o Rui de Melo entregava-me a emissão do "Onda Nocturna" e eu ficava por lá a "pôr discos" e a dizer banalidades serenas, no tom que o programa exigia. Numa manhã, saído tarde do Rádio Clube com o Humberto Branco, lembro-me de um belo nascer-do-sol a atravessar as janelas do "Transmontano", que o Alvela teimava em qualificar como o único restaurante "ível" (onde se podia ir...) na noite portuense.

Depois, já em Lisboa, o Rádio Clube era, para mim, a audição regular do PBX e, depois, do "Tempo Zip", companhias noturnas indispensáveis, entremeadas pela informação da maior escola de jornalismo radiofónico do país, dirigida por Luis Filipe Costa. Só entrei nos seus estúdios de Lisboa, à Sampaio e Pina, já depois do Rádio Clube ter estado no centro do 25 de abril. Após essa data, por lá andei em várias noites de conversa, levado pelos autores do "golpe de mão" que o havia tornado no "posto de comando do Movimento das Forças Armadas", o (agora general) Costa Neves, o Santos Coelho e o João Sobral Costa.

O fim do Rádio Clube será, julgo eu, sentido por muitos portugueses. Até por alguns saudosos salazaristas, que lembrarão os tempos em que a estação, nas mãos dos irmãos Botelho Moniz, serviu de alento aos "viriatos" portugueses que lutaram ao lado dos franquistas na guerra civil espanhola.

O Rádio Clube já não vai estar "sempre no ar, sempre consigo". E tu, João Paulo Guerra, como sentes este dia?

quinta-feira, janeiro 07, 2010

Pedroto


Foi já há um quarto de século que desapareceu José Maria Pedroto. Recordo bem essa noite, pois estava de passagem pelo Porto e pude testemunhar a tristeza dos portistas e de muitos portuenses.

Há dois tempos no futebol português: antes e depois de Pedroto, isto é, antes e depois do "renascimento" do Futebol Clube do Porto. Com Pinto da Costa, Pedroto é o grande protagonista do início da deslocação de poder, no mundo do futebol, do Sul para o Norte do país, retirando-o ao condomínio de largas décadas do Benfica e do Sporting.

Qualquer que seja a opinião que se tenha sobre estas figuras do nosso futebol, esta é uma realidade incontroversa para quem se interessa por este desporto-negócio e, por essa razão, um motivo para relembrar José Maria Pedroto.

segunda-feira, junho 29, 2009

Piolho

O "Piolho" fez 100 anos e, pelo que sei, está de boa saúde, com muita gente nova a animar-lhe a sala e a esplanada. O "Piolho", ou melhor, o "Café Âncora d'Ouro", é uma bela instituição do Porto, estrategicamente situada junto aos Leões, ali à beira dos Clérigos, de Carlos Alberto e do início de Cedofeita.

É um local de profundas tradições culturais e académicas, que muito frequentei na segunda metade dos anos 60, do século passado. Por ali aportava então muita gente de esquerda, os sócios da cooperativa livreira Unicepe, os pró-associativos (não tínhamos ainda direito a associação académica), os estudantes das Faculdades de Ciências e de Economia, logo em frente, bem como os de Letras e Medicina, um pouco abaixo. E todo o Teatro Universitário do Porto, por onde andei, bebia por ali o seu café de saco. É que o "Piolho", durante muito tempo, não teve "cimbalino" (essa portuense expressão para o "expresso", derivada das máquinas italianas "La Cimbali", que já equipavam a modernidade dos cafés da cidade, a começar pelo "Montarroio" e a acabar na "Brasileira").

Para muitas gerações desaguadas da província para estudar no Porto, os cafés representavam um espaço de acolhimento, socialização e convívio. O "Piolho" era um expoente desse universo, que também tinha o "Aviz" (algo intelectual) e o "Ceuta" (em frente ao Rádio Clube Português, onde eu também "actuei"), como fóruns clássicos de conversa, o "Progresso" com o melhor café de saco do mundo (dizia-se que punham bacalhau salgado) mas com professores a mais, o "Estrela" com os seus belos bilhares no 1.º andar e o "Bissau" de Cedofeita, um oásis de serenidade onde se concentrava a gente de Engenharia e dos lares da Torrinha e Rosário. Para estudo, tínhamos o "Saban" e o "Diu" (sempre cheio de "pequenas" de Farmácia). Mais para namoro, havia o "Guarany" ao fim da tarde, o "Orfeu" na Rotunda, o "Pereira" no Marquês, ou os recatados e distantes "Bela Cruz" do Castelo do Queijo e o "Chalet" do Passeio Alegre. Na baixa, onde se parava em outras diferentes ocasiões (ao domingos, ao final da tarde, à espera do "Norte Desportivo"), ficavam os institucionais "Rialto", "Embaixador" ou "Imperial", com a estudantada menos presente. E também o "Astória", ali no passeio das Cardosas, que abria às 6 da manhã, meia hora depois de fechar a "Stadium". Curiosamente, o "Majestic" não tinha então o "glamour" turístico de hoje e, bem perto, na Batalha, já preponderava o "Chave d'Ouro", onde a gente nova não ia muito.

Grande Porto!

terça-feira, maio 26, 2009

Vinho do Porto

Há semanas, estive na apresentação em Paris de um vinho do Porto rosé! É verdade, o "marketing" imaginativo do Porto já vai por esses caminhos, embora presuma que isso possa incomodar alguns puristas.

Confesso que não me preocupa nada que se possam descobrir novas fórmulas que nos permitam vender o nosso vinho, desde que se tenha sempre a qualidade como permanente referencial.

Em França, o vinho do Porto continua como um forte emblema de Portugal, com a curiosidade de ser servido Porto "doce" antes das refeições, ao contrário da maioria dos países, onde o Porto "seco" abre os repastos.

Deixo-lhes um som sobre o vinho do Porto, da autoria de Carlos Paião, pelos Donna Maria, para além de uma foto do Douro, região que, no segundo semestre, a Embaixada de Portugal em Paris vai promover com algumas iniciativas.

quinta-feira, fevereiro 26, 2009

Siza

Percebo pouco de arquitectura e, talvez por isso, a obra de Álvaro Siza Vieira que ainda mais me toca continua a ser um dos seus primeiros trabalhos - a Casa de Chá da Boa Nova (na imagem), em Leça, perto do Porto. Mas tenho visto dele outras coisas magníficas, de uma genialidade quase mágica. Embora, também por vezes, tenha de confessar a minha dificuldade em reconciliar-me com certas soluções por ele encontradas, como foi o caso da reconstrução do Chiado, em Lisboa.

Esta minha condição de assumido leigo, e de mero leitor impressionista das suas obras, não me impede de notar que os principais meios da arquitectura universal têm hoje um elevadíssimo apreço por Siza Vieira. Recordo-me que Oscar Niemeyer, quando lhe fui apresentado, me disse espontaneamente: "vocês têm um arquitecto de grande qualidade, lá em Portugal: Álvaro Siza".

A cumular todos os prémios que tem recebido por esse mundo fora, Siza Vieira foi hoje galardoado com o mais importante do Reino Unido, um país onde as coisas da arquitectura, ao que sei, são tratadas com imenso rigor.

Num tempo de algum exacerbar da nossa proverbial tendência para a auto-flagelação, este tipo de acontecimentos deveria ajudar a alimentar o orgulho nacional português. Mas será que vai?

Maduro e a democracia

Ver aqui .